AS BRASILEIRAS: Guiomar Novaes
José Domingoa Brito
Guiomar Novaes nasceu em São João da Boa Vista, SP, em 28/2/1894. Compositora e pianista com sólida carreira internacional e destacada intérprete das obras de Chopin e Schumann. Foi uma das responsáveis pela divulgação de Villa-Lobos no exterior e participante da Semana de Arte Moderna de 1922.
Filha da pianista Ana de Carvalho Meneses e José da Cruz Novaes, major e negociante de café. Foi a 17ª dos 19 filhos do casal. Demonstrou interesse pelo piano aos 4 anos, tocando de ouvido. Aos 6 anos a família se mudou para a capital e passou a ter aulas com o professor Eugênio Nogueira, além do incentivo da mãe. Em seguida teve aulas com o professor Luigi Chiaffarelli, famoso mestre italiano, quando foi aprimorada na base técnica e teórica. Aos 8 anos estreou, digamos profissionalmente, em salas de concerto e foi notícia de jornal como menina prodígio. Em São Paulo, era vizinha do escritor Monteiro Lobato, e serviu-lhe de inspiração para criar a personagem “Narizinho”.
Aos 15 anos foi contemplada com uma bolsa de estudos no Conservatório de Paris, onde estudou com o mestre húngaro Isidore Philipp. Lá passou por uma banca examinadora, da qual participava o compositor Debussy, e ficou em primeiro lugar ente 35 concorrentes, além de ganhar 1200 francos e um piano de cauda. Ao chegar em Paris foi convidada para visitar a Princesa Isabel, também pianista, que desejava ouvi-la. Foi ela quem estimulou Guiomar a incluir em seu repertorio a Grande fantasia triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro. Após 2 anos de curso no Conservatório, recebeu diversas ofertas de contratos e fez uma turnê pela Europa.
Retornou ao Brasil em 1914 e nos anos seguintes fez apresentações no Madison Square Garden (1915) e Carnegie Hall (1916), acompanhada pela Orquestra Filarmônica de Nova Iorque. No Brasil, os organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922 precisavam de um nome importante para se apresentar no evento e ela foi convidada. Não gostou do deboche à música de Chopin e manifestou seu protesto numa entrevista. Mesmo assim, fez sua apresentação num dos poucos momentos em que a plateia ficou em silencio para ouvi-la tocar. No mesmo ano se casou com o arquiteto e compositor Oscar Pinto, com quem teve um casal de filhos.
A partir daí incluiu em seu repertório as obras de Villa-Lobos, tornando-se importante divulgadora do maestro nos EUA, onde se apresentou inúmeras vezes. A imprensa norte-americana a reconheceu como a melhor pianista do mundo. Em 1938 foi convidada a tocar para o presidente Franklin Roosevelt. Em meados da década de 1950, seu marido faleceu. Sofreu um abalo e cogitou um fim de carreira, mas logo se ergueu e voltou aos palcos, fortalecendo-se com a música. Em 1963 foi convidada para representar a América Latina na comemoração dos 15 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promovida pela ONU.
Em março de 1967 foi escolhida, entre vários artistas do mundo, pela rainha Elizabeth II para participar da inauguração do Queen Elizabeth Hall, em Londres. No mês seguinte foi, de novo, convidada pela rainha para um recital no Palácio de Buckingham. Foi condecorada diversas vezes com títulos, medalhas, insígnias, comendas, e homenagens, dentre as quais o grau de “Chevalier” da Legião de Honra da França (1939) e a Ordem Nacional do Mérito (1955), concedida pelo governo brasileiro. Sua última temporada se deu em 1972 nos EUA, aos 78 anos, e veio a falecer em 7/3/1979, em São Paulo, vitimada por um infarto do miocárdio. Foi velada na Academia Paulista de Letras e sepultada no Cemitério da Consolação ao som da Marcha Fúnebre, da Sinfonia Eroica, de Beethoven, executada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro Eleazar de Carvalho.
Sua vasta discografia, num período de 60 anos, foi gravada pelas companhias RCA Victor, Duo Art, Columbia Vox, Vanguard e Fermata, que gravou seu último disco com uma série de obras de compositores brasileiros: Francisco Mignone, Marlos Nobre, Souza Lima, Camargo Guarnieri e Villa-Lobos. Dois documentários nos dão um retrato fiel da grande pianista: Guiomar Novaes: depoimento e memória (1978), produzido por Olívio Tavares de Araújo e Infinitamente Guiomar Novaes (2003), dirigido por Norma Benguel. Boa parte de sua biografia pode ser encontrada em Guiomar Novaes do Brasil: a trajetória da pianista em Nova York, incluindo 2 CDs, publicada em 2011 por Luciana Medeiros e João Luiz Sampaio.