O meu livro na construção do mundo
Negro, pobre e coxinha. Li essas três referências a meu respeito – como estão fazendo atualmente os babacas, idiotas e descerebrados, quando alguém diverge deles. Democracia para eles é só o direito que “eles têm” – os direitos dos outros em discordar deles, não é democracia. É fascismo. É ser coxinha.
Negro, sim. Sou descendente de negros africanos e não de alemães arianos. Pobre, também. Sou filho de operários que sempre tiveram que trabalhar para pôr o pão e o feijão na mesa – e nunca vi trabalhador ficar rico, a não ser o Deus Lula, ungido por todos os santos, ainda que sem saber de nada. Nunca. Nunca sabe de nada e ainda diz que a falecida mulher é que era rica e bem assalariada. Os filhos, em apenas cinco anos, trabalharam mais e ficaram mais ricos que a família mantenedora do Grupo Votorantim. Coxinha, não. Apenas não compactuo com roubalheira nem tenho bandido de estimação para leva-lo a dividir a cama e os sonhos comigo.
Em abril passado cheguei a duras penas, e enfrentando muitos obstáculos, aos 74. Peço à Deus para pelo menos me permitir chegar aos 75, no próximo abril. A vida, reconheço e a louvo, me ensinou mais que as escolas formais.
Jornalista profissional aposentado, e Cronista calouro, concluí no final do mês passado o que pretendo ter sido o primeiro livro.
Na roça, onde vivi os melhores anos da minha vida, plantei várias árvores – todas frutíferas e sombrias. Na vida sou parte de cinco filhos gerados – 4 moças e um rapaz e dois casamentos. Divorciado do primeiro, de onde nasceram duas moças.
Finalmente chegou a hora e a vez de escrever um livro, depois de plantar árvores e fazer filhos. E aí, em primeira mão para o Jornal da Besta Fubana, a capa de um compêndio reunindo 100 crônicas, alguns poucos poemas e parte do dia-a-dia vivido desde 1987 em São Luís.
O material está na revisão final, e antes do final deste mês deverá ir para a editora/gráfica. Financeiramente não tenho recursos para custear, embora o valor não seja astronômico. A tiragem será de 1 milheiro – mas ainda não tenho data definida para lançamento. Um amigo está pretendendo (e prometendo) me ajudar na ousadia. Se tudo correr bem e se eu estiver com saúde, pretendo comparecer ao encontro “capoeiral” do JBF, aonde finalmente o Luiz Berto gasta um pouquinho do dinheiro arrecadado na publicidade desta gazeta escrota (quem me deu essa informação privilegiada foi Chuplicleide).
Acontecendo isso, pretendo levar alguns exemplares para a capital pernambucana.
DETALHES:
1 – O livro terá no máximo 160 páginas; a capa é uma foto de uma das laterais da Casa das Tulhas, encravada no Centro História de São Luís, e é um trabalho do meu sobrinho Leonardo Ramos, web/designer residente há anos no Rio de Janeiro. Algum interessado poderá entrar em contato pelo e-mail: leonardorramos@gmail.com
2 – A seguir, a crônica que deu título ao livro.
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PINTANDO BORBOLETAS
Manhã de um dia comum, de mais uma semana de trabalho, com ares de domingo. Mas, domingo foi ontem, ou será amanhã? – mas pode ser hoje, em obediência à nossa intenção. Ou será que, uma coisa ou outra terá alguma importância?
Que diferença pode fazer ou que importância tem um domingo – se esse é um dos sete dias da semana?
O forte vento causava a impressão de querer nos trazer ou tanger para o outono, num redemoinho que nos fará passar, também, pelo verão. Mas, não há explicação plausível para tantas folhas ressequidas formando o tapete no qual pretendíamos trabalhar, pintando borboletas.
A beleza e a tranquilidade do lugar, que nos permite contar os iguanas passeando nos galhos ressequidos, momentaneamente parece nos transformar num Van Gogh escrevendo a Natureza com suas tintas e seus pincéis.
Pincéis à mão!
Tela preparada – e o vento continua aumentando em rodopios espalhando as folhas ressequidas, ora tecendo, ora destruindo um tapete para deuses invisíveis, abrindo espaços com mãos de fada.
Um poema, com versos metricamente perfeitos e rimas que não deixam margens para críticas.
A Natureza põe e retira o vento da forma que bem lhe convém. Na direção que quer. Levando e trazendo de volta o que ajuda compor a paisagem. O atelier.
A Natureza faz da vida um poema. E nos ensina a viver as estações do ano com suas cores vivas, e mutantes. Um arco-íris!
Cada mudança é mais um passo a caminho da perfeição. A Natureza é um poeta.
Às mãos, tela e pincéis.
Os olhos escrevem o poema, selecionando as cores do arco-íris e a tela ainda branca começa sugar a tinta, como se uma força estranha pintasse por nós. Cada traço um novo tom que vai formando uma imagem que o cérebro ainda não define.
Seria a “Natureza”?
A borboleta está no pano da tela ainda inconclusa. Falta terminar de pintar uma das asas, e o vento avisa que está voltando. Agora mais forte. Últimos retoques. Pronto. A borboleta está pintada. Quase perfeita.
O vento chega rodopiando as folhas secas, quase quebrando os galhos ainda nas árvores. Empurra para longe o cavalete com tela e tudo. Nos apressamos em desvirar a tela para garantir a secagem da tinta, e a ação nos surpreende e nos faz sentir a presença d´Ele.
A borboleta não está na tela. Voou!