(Raimundo Floriano)
Substancial refeição, constituída de um único prato, o arroz de puta, por sua funcionalidade, era o preferido pelos viajantes solitários, vaqueiros, comboieiros e outros, exigindo poucos utensílios: frigideira, pequeno bujão de gás e fogão de uma boca, agora substituindo a fogueira do passado:
Com o avanço da tecnologia e também com a facilidade da aquisição de ingredientes diversos, enriquecedores do prato, surgiram duas classificações: arroz de puta pobre e arroz de puta rica, sobre os quais passo a discorrer.
ARROZ DE PUTA POBRE
Arroz de puta pobre é um prato muito tradicional no Rio Grande do Sul. O nome deriva das condições em que era feito. Dizem que as prostitutas de beira de estrada ganhavam muito mal e, por isso, tinham que trabalhar muito e não recusar cliente, no início, carreiros, tropeiros e carroceiros, depois, caminhoneiros e viajantes de toda ordem. Para ganhar tempo, faziam comida simples e de rápida elaboração. Suas casas se localizavam nas margens das estradas, o que facilitava tanto para elas como para os fregueses. Hoje, é raro o caminhoneiro que não o saiba fazer, para economizar dinheiro em longas viagens.
Originalmente feito com arroz e linguiça de porco, foram-lhe acrescentados novos componentes. Aí vai a receita.
Ingredientes:
2 colheres das de sopa de óleo;
1 porção de linguiça, a gosto;
1 cebola picada;
1 tomate picada;
2 dentes de alho picados;
1 pimentão verde picado;
2 xícaras de arroz;
1 molho de tempero verde picado;
Sal a gosto, dependendo do que já vem na linguiça.
Modo de preparo:
Colocar o óleo na frigideira e a linguiça. Fritar muito bem até dourar. Adicionar a cebola, o tomate, o óleo e o pimentão verde. Deixar fritar tudo muito bem. A seguir, adicionar o arroz e água suficiente que cubra o arroz. Colocar sal a gosto e deixar cozinhar. Por fim, desligar o fogo e salpicar o prato com o tempero verde.
ARROZ DE PUTA RICA
A criação dessa modalidade é creditada a uma cafetina de Goiás, que queria servir em sua casa uma versão mais enriquecida do arroz das meninas desapercebidas.
Ingredientes:
4 coxas de frango;
1 gomo de linguiça calabresa;
4 costelinhas defumadas;
2 xícaras de arroz;
2 cebolas picadas;
4 dentes de alho picados;
1 ovo cozido ralado;
1 xícara de bacon cortado em cubinhos e frito;
4 colheres de sopa de ervilhas frescas;
4 colheres de sopa de milho verde;
4 colheres de sopa de açafrão;
4 xícaras de caldo de galinha;
1 talo de cebolinha e 1 de salsinha, picados, para adicionar ao final;
Sal, óleo e pimenta a gosto;
Modo de preparo:
Temperar as coxas com sal, pimenta, alho e cebola, refogar e reservar. Cortar a linguiça em rodelinha, fritá-las ligeiramente e reservá-las. Cozinhar as costelinhas defumadas e reservá-las também.
Refogar o arroz no alho e cebola. Acrescentar as coxas, a linguiça, a ervilha e o milho. Misturar o açafrão ao caldo de galinha e incorporá-los ao arroz, deixando cozinhar. Para finalizar, espetar as costelinhas sobre o arroz, que deve ser salpicado de bacon, tomate, ovo ralado, cebolinha e salsinha.
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Um dia, passando casualmente pelo estacionamento do Mané Garrincha, onde ficam os caminhões de aluguel, vi um caminhoneiro com o dispositivo montado para cozinhar uma refeição. Não contive a curiosidade, parei o carro ali perto e pedi-lhe para assistir ao desenrolar da operação. Ele consentiu e me informou que iria preparar um arroz de puta pobre.
Não demorou meia hora, e ele me apresentou um prato de agradável aroma e visual convidativo, sendo oferecida uma porção para que eu degustasse. Maravilhoso sabor, comparável às mais famosas iguarias de badalados restaurantes!
Como jamais carrego celular comigo, não pude registrar a cena. Mas é em homenagem àquele caminhoneiro e chef anônimo que dedico esta humilde crônica.
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