“Folha da Manhã” o primeiro jornal em que publiquei reportagem
Sou um compulsivo guardador de papéis. Hábito que vem da Casa Paterna. Dizem que nas gavetas da memória a gente guarda inconscientemente tudo quanto não se pretende esquecer. Eu vou mais além. Guardo os papéis, pois são comprovantes.
Estão numerados, datados e acondicionados em caixas de poliestireno.
Quando preciso vou lá, desarrumo-as e me divirto com as coisas do passado que face à documentação conseguem me manter antenado sem nada esquecer.
Tenho muito cuidado ao guardar documentos. Tiro os grampos e os clips, para evitar a ferrugem, faço uma limpeza cuidadosa e colo aqueles que forem necessários manter como irmãos siameses.
Cada abertura de caixa é um passeio maravilhoso pelas coisas boas que já vivi. Parece que aos domingos as caixas de isopor ficam me convidando à abertura e exame da papelada.
Sim, porque o melhor que vivi em minha vida tive o cuidado de documentar, juntar comprovantes, fotografias e guardar para sempre, como se eu fosse viver uma eternidade. E sempre que revejo parte daquilo revivo os anos.
O interessante desse hábito inveterado de guardar é que sempre que vou aos arquivos antigos encontro alguma coisa que possa ser encaminhada a um amigo e faço uma cartinha encaminhando o assunto.
Quando os tempos já passaram aqueles papeis se tornam peças históricas. A utilização dessas “gavetas físicas da memória” é como se fossem a abertura de cofres, dotados de segredo, onde guardei tudo quanto não desejava que ficasse esquecido.
Na vida, em termos de arquivamentos, a sorte me ajudou. Aos 16 anos eu estava trabalhando nos arquivos do City Bank, depois, ao ingressar no Banco do Brasil, sabendo-se que eu tinha certa prática da função, fui para um departamento semelhante.
E entre as tantas emoções adormecidas eis que vou encontrar o primeiro jornal profissional em que publiquei uma reportagem há 67 anos: a “Folha da Manhã”, do Recife, que circulou em 3 de agosto de 1955; um jornal de propriedade do grande governador Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães.
Hoje, graças aos arquivos que também guardam a pré-história de minha vida – porque lá estão as minhas ascendências colaterais, posso recordar tudo isto que me traz uma felicidade que nem posso traduzir.
E revivendo tais preciosidades fui encontrar a peça de teatro – “Amor que salva” – toda escrita à mão, por meu avô paterno, que era Juiz, jornalista e escritor, João Pacífico Ferreira dos Santos, levada à cena em 1904, em Palmares, PE.
Peça de Pacífico dos Santos, levada à cena em 1904, em Palmares
E, por isso, direi até filosofando: Arquivar é viver!