Poucos esportes se ligam, tão estreitamente, à história da humanidade, como o Arco e Flecha, ou tiro com arco, arma tradicional durante séculos, para a caça e a guerra. Seu uso remonta à idade da pedra e, na antiguidade, alcançou grande desenvolvimento.
Entretanto, a regulamentação da prática do Arco e Flecha, como atividade esportiva, só ocorreu na primeira metade do século XIX. Depois de um intenso emprego desses instrumentos no período medieval, a invenção da pólvora fez com que os arcos desaparecessem, aos poucos, dos campos de batalha e que seu emprego, com fins desportivos e de entretenimento, ganhasse crescente importância. O tiro com arco, prova olímpica de 1900 a 1920, foi, após vários anos de supressão, reintroduzido nos jogos em 1972.
Pois bem. Era uma vez, uma ilha delirante, chamada “Sol e Mar”, cheia de bananas, com muito sol e muito mar. Lá, um decadente bordel foi transformado num palácio real.
A população da ilha era composta por um rei, príncipes, ministros, um esfaqueador, vendedores ambulantes, lavradores, e muitos urubus em cima dos telhados. A ilha vivia grandes desventuras políticas, protagonizadas por homens de capas pretas, segurando suas espadas ameaçadoras. Era cercada de tubarões em todos os sentidos e por todos os lados.
Um certo dia, o povo acordou com um alto-falante anunciando aos quatro cantos da ilha:
– Atenção, moradores da Ilha “Sol e Mar!
– Por ordem do Suavíssimo e Humaníssimo Rei, Sua Majestade Folote II, não se pode mais entrar no Palácio real, comendo pipocas Bokus, nem mascando chicletes de bola. Muito menos, assoando o nariz ou tirando catota. em público. Também, fica proibido deixar escapar da “região cual” vento estocado e gases putrefatas, contaminando o ambiente real.
O filho único do Rei era abobalhado, mas, mesmo assim, era atleta e praticava Arco e Flecha. Para satisfazer seus gostos, o pai permitia que ele mantivesse sempre um homem do povo amarrado a uma cadeira, em praça pública, portando na cabeça um alvo, para que exercitasse seu esporte preferido. O alvo era sempre uma maçã, um cacho de bananas, uma melancia ou uma jaca. Mas, por maior que fosse o alvo, o “atleta” sempre errava a mira e acertava a flecha no peito do homem do povo. O rei, então, mandava anunciar, que aquela morte ocorrera em decorrência de um mal súbito, que fulminara o homem do povo.
Admoestado, o filho se justificava perante o Rei, de que precisava de fortes emoções, para se sobressair no seu esporte. Para ele, não tinha graça nenhuma preservar a vida de um homem do povo, se, para o próprio Rei, esse homem não tinha nenhum valor.
O rapaz insistia com o pai, para que ele permitisse que fosse amarrado à cadeira, em praça pública, não um homem do povo, mas um dos seus ministros, com uma jaca na cabeça. Somente assim, ele se sentiria motivado a atingir o alvo e preservar a vida do importante homem.
O Rei não concordou, temendo que o filho errasse o alvo, “sem querer”, e matasse o ministro. Aliás, essa cena já tinha ocorrido dois anos antes, quando um ministro, com uma jaca na cabeça como alvo, e amarrado a uma cadeira em praça pública, foi vítima da maldade do filho do rei. O rapaz preservou a integridade da jaca e matou o importante homem. Mais uma vez, a notícia que se espalhou foi de que a vítima tinha sido acometida de um mal súbito e fulminante.
O Rei relembrou o ocorrido, mas o filho disse que, dessa vez, com um ministro, ele teria mais cuidado. E perguntou ao pai:
– Meu pai, para que serve um ministro nesta Ilha?