29 de julho de 2022 | 05h00
Anunciado na terça-feira como um “divisor de águas”, o encontro entre dirigentes de clubes e a Comissão de Arbitragem da CBF tem um desafio imediato a ser enfrentado: a enxurrada de erros e marcações duvidosas que surgem a cada nova partida. Na quarta-feira, pouco mais de 30 horas depois daquele encontro, jogadores, técnicos e dirigentes de Flamengo e Athletico-PR saíram de campo no Maracanã reclamando muito da arbitragem de Luiz Flávio de Oliveira no jogo válido pelas quartas de final da Copa do Brasil. A entidade afastou o árbitro principal e Wagner Reway, responsável pelo VAR naquela partida.
Os dois foram incluídos no Programa de Assistência ao Desempenho do Árbitro (PADA). Antes chamado informalmente de "reciclagem", o programa oferece assistência multidisciplinar para árbitros e assistentes. Na prática, significa que tanto Luiz Flávio de Oliveira quanto Wagner Reway sem trabalhar nos jogos do Brasileirão e da Copa do Brasil por tempo indeterminado.
As polêmicas recaíram principalmente sobre quatro lances na partida de quarta-feira. O Flamengo reclama de um suposto pênalti de Fernandinho sobre Léo Pereira, e da expulsão de David Luiz já no fim da partida. Na súmula, Luiz Flávio justificou o cartão vermelho porque o zagueiro fez “um movimento de tapa no ar com a palma da mão aberta, em minha direção”, além de ofendê-lo.
O Athletico, por sua vez, considera que a arbitragem foi condescendente em pelo menos outros dois lances. “O quê? Eles (Flamengo) estão reclamando de alguma coisa? Passa o lance do Gabigol chutando o Fernandinho. Passa o lance do Arrascaeta. Vergonhoso! É pra expulsar 30 dias seguidos! Não é um dia, são 30 dias seguidos”, esbravejou o técnico Luiz Felipe Scolari.
“(O Arrascaeta) não quebrou o pé do Erick por milagre. Pelo amor de Deus, não me venha com choradeira. Quem tem que chorar somos nós, que poderíamos ter o jogador por seis meses fora”, sustentou Felipão. “Não procede nada (a reclamação do Flamengo), é gritinho de histeria.”
Histeria ou não, fato é que os lances entraram no rol das reclamações, que se intensificaram nas últimas semanas. Após o encontro de terça-feira, que ocorreu a portas fechadas, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, disse que a reunião contou “com críticas realmente duras, pertinentes e respeitosas”, mas também com um “entendimento sobre voto de confiança na arbitragem”. ‘Voto de confiança’, aliás, foi um termo também utilizado por Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, que na quarta se sentiu mais uma vez prejudicado.
VAR. A reclamação dos dois clubes também joga ainda mais pressão sobre o quadro de arbitragem do País, que na próxima semana passará por treinamentos intensivos no Rio. Ao todo, 95 árbitros terão atividades durante cinco dias, com foco sobretudo no VAR.
Apesar de o Brasil ser um dos países pioneiros no uso do árbitro de vídeo, a própria cúpula da CBF reconhece o mau uso da ferramenta. “Em alguns jogos a gente sabe que, às vezes, existe uma interferência desnecessária. Em outros, até nem tem interferência”, apontou Ednaldo Rodrigues, evidenciando uma falta de padronização das ações.
A ausência de um padrão mais claro é motivo de queixas de técnicos e de jogadores desde que o sistema foi implantado no Brasil - o VAR faz parte da Série A desde 2019. Às vezes, as reclamações são por desconhecimento; segundo o protocolo, o árbitro de vídeo só pode ser acionado para avaliar possíveis pênaltis, para validar um gol, para identificar corretamente um jogador ou para apontar lances passíveis de expulsão.
Outras vezes, contudo, as reclamações são por erros operacionais dos próprios árbitros, o que inclui falhas na própria formação técnica dos profissionais. Dos quatro lances reclamados pelos dois clubes rubro-negros, três poderiam ter sido melhor analisados pelo monitor.