O projeto estava pronto, com a genialidade do arquiteto que fez o painel desenhado que se debruça ao longo do espaço externo do restaurante, dividindo o ambiente refrigerado daquele outro, ao ar livre. Uma mureta de vidro, encabeçada por pequena jardineira, era tudo o que queríamos. E tivemos. Transparência visual. Tudo feito com o cuidado de possibilitar aos frequentadores o aproveitamento integral das paisagens andantes que por ali trafegavam, indo ou vindo para a praia bem próxima. Tivesse Vinícius passado por ali, teria que pluralizar e alterar o título de sua música Garota de Ipanema, transformando-a em Garotas do Pina, tantas eram as belezas que por ali trafegavam. Mas uma maldita loja de construção pôs em promoção um tal de porcelanato. Pior: a mulher do dono do restaurante encantou-se com as vantagens oferecidas e, ao invés do transparente muro de vidro, afixou ali uma detestável parede, uma mureta de 60 centímetros, de cimento e revestido pelo tal do porcelanato, impedindo a contemplação integral, de nossa parte, daquelas que por ali passavam. Ficamos limitados à parcialidade visual que o ambiente passou a oferecer, permitindo-nos, apenas, o vislumbre da parte acima da cintura daquelas ‘praieiras’. E o ‘andar térreo’? Seria compatível com a beleza apurada na ‘sobre-loja’? Nunca saberemos, submetidos que estamos a esta tortura visual, dúvida atroz. Tanto me revoltei que deixei de frequentar o tal restaurante e, sempre que por lá passo, não resisto e, conjugado com o gesto característico, grito aos quatro cantos: aqui PRA VOCÊS, Ó! Pena que o caldinho de peixe que eles serviam era tão bom!
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