Aos poucos a gente vai percebendo que o muito importante é estar bem.
Que a verdadeira alegria traz sorrisos ao coração, e refrigera o espírito.
Que simples gestos são sofisticados demais para a compreensão de quem só acha a vida não seguindo além do último suspiro.
Que cheiros, sabores e lugares são elevados pelo poder de encantamento da pessoa nos acompanhando.
Aos poucos a gente vai percebendo que a vitória do time – ou do partido – não é nada diante do choro de muitos perdidos na possibilidade e na falta de esperança.
Que não é a cor da pele, ou a deidade adorada, a tradução da bondade e do caráter de alguém. Tampouco com quem ele deita à noite para sentir prazer.
Que não importa o bairro, o valor, ou o tamanho do apartamento. Mas se é um lar harmônico.
Que o valor de um carro pode ser medido pelas mentiras ocultadas em seu interior. Custa exatamente o valor moral do seu dono.
Que a dignidade é algo da alma, nunca da sala de estar atapetada, com móveis em madeira de lei, belas cortinas e quadros caros em suas paredes.
Que não importa o valor da mesa, da porcelana, do preço do prato, se a comida servida é fruto do desespero de alguém sem mesa, ou sem louça.
Que o lamento antecede o sorriso, mas que uma gargalhada pode vir antes de uma lágrima, e o tempo cura ambos: sorriso e lágrima.
Que o sobrenome importante não vale mais, se as atitudes praticadas exigem esconder o nome.
Que a embriaguez é tão saudável quanto a sobriedade, quando ambas nascem arrumadas na felicidade.
Que o tecido fino é a mesma coisa que o algodão trançado em grosso fio. Ambos encobrem intimidades.
Que uma légua andada por pés descalços, não tem a mesma distância se for vencida por pés em sapatos. Porém, ensina muito mais.
Que a loucura – ah, a loucura! – empresta à vida o que a lucidez dá de graça à arte, e a sanidade não pode ser contada maior que a loucura.
Que o perfume não é mais saudável que o banho.
Que o sonho não é produto do sono.
Que a paixão e o amor não vivem para a compreensão.
Que a vaidade é como uma armadilha projetada para quebrar a perna de quem a arma, ou como um fogo que só pode sair pela culatra.
Que a doçura não se perde por mais que possa ser desprezada por alguém.
Aos poucos…
Aos poucos a gente vai percebendo.
Aos poucos a gente vai percebendo que o muito importante é estar bem.