ANTÔNIO BARROS E CECÉU: CASAL NOTA DEZ DO FORRÓ
Raimundo Floriano
Antonio Barros e Cecéu
O início dos Anos 1980 dava a entender, pelo menos para nós residentes neste quase-sul brasileiro, que o Forró perdera sua força criativa, estava carente de compositores novos que o revigorassem, que o tirassem do marasmo em que se encontrava. E foi aí que apareceu, para a felicidade de todos os forrozeiros, o casal Antonio Barros e Cecéu, cujas composições, desde então e até hoje, são disputadas por todos os astros da Música Nordestina.
É bem verdade que Antonio Barros já era conhecido por aqui na década anterior, com o xote Procurando Tu, em parceria com J. Luna e interpretado pelo Trio Nordestino, mas apenas pela letra de duplo sentido, um filão que também começava a surgir. O lançamento dos xotes Homem com H, de Antonio Barros, em 1981, Por Debaixo doe Panos, de Cecéu, em 1982, na voz de Ney Matogrosso, e Bate, Coração, de Cecéu, no mesmo ano, gravado por Elba Ramalho, balançou a estrutura do Forró e consagrou o nome desse inspiradíssimo casal de compositores no gosto de toda a população brasileira. São mais de 30 anos de intensa visibilidade na midiática.
Faço minhas as palavras de Marcus Vinícius de Andrade, Diretor-Artístico da Gravadora CPC-UMES, extraídas do encarte do CD acima, Antonio Barros e Cecéu - Forró Número Um:
“Antonio Barros e Cecéu formam uma dupla de compositores que todo o Nordeste (melhor dizendo, todo o País) conhece, pelos inúmeros sucessos que já produziu. Gente simples e boa, cuja música fala o Português gostoso do Brasil – como diria o grande Manuel Bandeira –, eles são o exemplo mais perfeito de autores que sabem conciliar simplicidade e refinamento, picardia e criatividade linguagem popular e bom gosto. Paraibanos de raça, conseguem ser universais: não foi à toa que sua canção Bate, Coração, com o talento esfuziante de Elba Ramalho, causou o maior fuzuê em Montreaux, quando o Forró desmontou a cintura dura das suíças... Até em Israel, as canções de Antônio Barros e Cecéu são conhecidas, cantadas em Iídiche com o mais puro sotaque sertanejo.
“Autores de mais de 700 obras, das quais mais de 200 se tornaram sucesso, Antonio Barros e Cecéu conhecem a fundo a linguagem da canção, da boa e simples canção que atinge todos os segmentos do público, sendo assobiada nas ruas e cantada com naturalidade em choupanas e palácios, por gente de todas as idades e condições sociais. Esse domínio do artesanato da canção é fruto não apenas de seu talento, mas também de uma experiência de muitos anos, aprimorada junto a nomes como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, com quem eles trabalharam e de quem são alguns dos mais legítimos herdeiros.”
Vejamos um pouco de suas biografias.
ANTONIO BARROS
Antônio Barros Silva, cantor, compositor e poeta, nasceu a 11.03.1930, em Queimadas, Região Metropolitana de Campina Grande, Paraíba, filho de Severino Barros da Silva e Luiza Rodrigues da Silva. Casado com a compositora e cantora Cecéu, fixou residência em São Paulo.
Estudou no Grupo Escolar José Tavares, e a maior parte de sua infância foi vivenciada na Zona Rural. Quando sobrava tempo para brincar, costumava pegar uma lata de querosene vazia de 20 litros, colocava a cabeça dentro, batia do lado de fora com as duas mãos, fazendo ritmo, enquanto cantava para ouvir sua própria voz com efeito reverberado.
Aos dezenove anos de idade, foi trabalhar como músico tocando pandeiro na Rádio Caturité, em Campina Grande. Por volta dos 20 anos, mudou-se para o Recife onde, na Rádio Tamandaré, deu continuidade a seu trabalho como pandeirista. Foi nessa mesma época que escreveu sua primeira música e conheceu Jackson do Pandeiro, o qual se tornou seu grande amigo, apoiando-o na vida profissional.
A partir daí, começou a gravar suas primeiras canções profissionalmente com Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Zito Borborema. Logo depois, foi para o Rio de Janeiro, conquistando ainda mais seu espaço no meio musical, onde passou a gravar com Marinês, Trio Nordestino e também tocando triângulo no Regional de Luiz Gonzaga, na casa de quem morou, na Ilha do Governador.
Trabalhou como contrabaixista no navio Ana Neri, que fazia cruzeiros turísticos pelo litoral brasileiro. Em 1970, numa dessas viagens compôs Procurando Tu, a partir de lembranças da infância, e entregou a música para gravação pelo Trio Nordestino. Aceitou a parceria de J. Luna disc-jóquei baiano, que o ajudou a divulgar a música no Nordeste, tornando-se um dos sucessos daquele ano e regravada por ele mesmo, Ivon Curi e Jackson do Pandeiro, entre muitos. Outros de seus sucessos gravados pelo Trio Nordestino foram, Corte o Bolo, Cuidado Com as Coisas, É Madrugada e Faz Tempo Não Lhe Vejo. Na maioria, letras de duplo sentido que se fizeram amplamente conhecidas, mas obnubilavam o nome do compositor.
Em 1974, teve a música Vou ver Luiza, parceria com Lindolfo Barbosa gravada por Bastinho Calixto pela EMI. Um dos muitos grupos que gravaram suas composições e obteve sucesso foi o trio Os Três do Nordeste, que alcançou as paradas de sucesso com É Proibido Cochilar, Forró do Poeirão, Forró de Tamanco e Homem com H.
Em 1981 teve a música Estrela de ouro, parceria com José Batista, gravada por Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e Quebra Pote, pelo Trio Mossoró. No mesmo ano, conheceu a consagração nacional com, Homem com H, composta anos antes para a novela O Bem Amado, quando Ney Matogrosso a regravou, conquistando o Primeiro Lugar na Parada de Sucessos daquele ano.
Desde então, sua carreira musical se consolidou, crescendo a cada ano que passa.
CECÉU
Cecéu – Mary Maciel Ribeiro –, cantora e compositora, nasceu a 02.04.1950 na cidade de Campina Grande, na Paraíba, filha de Severino Lourenço Ribeiro e Maria Maciel Ribeiro. Morou 10 anos no Rio de Janeiro, radicando-se depois em São Paulo. É casada com o compositor Antônio Barros.
Quando menina, acompanhava o pai comerciante ao centro da cidade e lá fazia questão de comprar a Revista do Rádio. Desde muito pequena, era encantada pelo rádio. Uma das músicas que a marcaram nessa época foi o samba Iracema, gravado por Os Demônios da Garoa, ouvida na radiola de uma festinha infantil, que contava a triste história de uma moça que é atropelada a poucos dias do casamento. Aquilo a sensibilizou tanto, que não conseguiu aproveitar a festa com as outras crianças. Nessa época, tinha apenas sete anos, e fui profundamente influenciada pela música.
A característica marcante de Cecéu sempre foi a música romântica, que fala de sentimento, de coração. Apaixonada por programas de rádio, sua infância foi marcada por cantores que não combinavam com sua faixa etária como Ângela Maria, Cauby Peixoto, Emilinha Borba e Anísio Silva o Rei do Bolero. Sua mãe até que tentava convencê-la de que aquelas não eram músicas para criança, mas isso de nada adiantava.
Conheceu Luiz Gonzaga nos Anos de 1970, quando fazia gravações na CBS com os Três do Nordeste e Marinês. Ficou amiga do Rei do Baião, e sempre que este ia a Campina Grande, costumava dividir com ela o mesmo palco.
Em 1982, o cantor Ney Matogrosso gravou com enorme sucesso o xote Por Debaixo dos Panos. No mesmo ano, a cantora Elba Ramalho obteve sucesso espetacular com o xote Bate Coração, gravado ao vivo no Festival de Montreux na Suíça.
Foi a consagração no Universo Forrozeiro, o que se prolongou até os dias atuais.
ANTONIO BARROS E CECÉU
Dois paraibanos filhos de Severinos! Só podia dar no que deu! Antonio Barros e Cecéu encontraram-se em 1971, quando formaram uma parceria no trabalho musical e no amor. Passaram a compor juntos e se tornaram um casal de sucesso. Levantando a bandeira de forte expressão artística no companheirismo do dia-a-dia, essa dupla se transformou num paradigma da cultura popular brasileira, pois nesse decorrer são mais de setecentas obras gravadas pela maioria dos intérpretes brasileiros, alcançando popularidade até no exterior onde também suas músicas foram gravadas na Itália, Espanha, Portugal e Israel.
Homem Com H, Por Debaixo Dos Panos, Bate, Coração, como também as famosas Procurando Tu, Casamento de Maria, Sou o Estopim, Amor Com Café, Forró do Poeirão, Forró do Xenhenhém, Óia Eu Aqui de Novo são algumas das canções que fazem parte do acervo de músicas autorais dessa dupla e gravadas por expressivos nomes da MPB como Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Dominguinhos, Gilberto Gil, Alcione, Ivete Sangalo, Fagner, Gal Costa, MPB-4 e os saudosos Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Marinês.
Esses consagrados artistas, que fazem parte da realidade e da história de nossa música, conseguiram romper a regionalidade sem perder o sotaque. Na capital paulista, onde reside desde 1995, o casal apresenta shows com classe e charme através de seus inúmeros sucessos. A história e a música de Antonio Barros e Cecéu se mantém sempre em atividade. Exemplo disso é encontrar regravações e releituras de suas músicas feitas por uma nova geração de intérpretes, não somente de ídolos regionais, mas, muitas vezes, de artistas pops e DJs de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que, constantemente, estão cultivando essa obra genial.
Estes elepês e cedês, bem como o acima estampado, são facilmente encontráveis em sebos virtuais:
É tarefa impossível selecionar uma só faixa como amostra da colossal produção desse talentoso casal, principalmente para a nova geração, que conhece a maioria de suas músicas, mas desconhece o nome de quem as compôs. Portanto, aqui vai uma pequena amostra:
PUPURRI COM ANTONIO BARROS E CECÉU:
01 - NÃO LHE SOLTO MAIS - Rojão (Cecéu), NA CAMA E NO CHÃO (Cecéu), BULI COM TU (Cecéu)
PUPURRI INDIVIDUAL COM ANTÔNIO BARROS:
02 - POR BAIXO DOS PANOS - Xote (Cecéu), HOMEM COM H (Antônio Barros), PROCURANDO TU (Antônio Barros e J. Luna)
PUPURRI INDIVIDUAL COM CECÉU:
03 - NAQUELE SÃO JOÃO - Arrasta-pé (Antonio Barros), BRINCADEIRA NA FOGUEIRA (Antônio Barros), JÁ É MADRUGADA (Antonio Barros)
ANTONIO BARROS, EM GRAVAÇÃO INDIVIDUAL
04 - NA PALMA DA MÃO - Rojão (Antonio Barros e Cecéu)
CECÉU, EM GRAVAÇÃO INDIVIDUAL
05 - BATE, CORAÇÃO - Xote (Cecéu)
COMPOSITORES E CANTORES SENSACIONAIS.