A virada de 2021 para 2022 teve um gostinho especial. A energia do recomeço veio com ainda mais força, e a perspectiva de dias melhores preenche até mesmo os corações mais receosos. A esperança, com o auxílio da terceira dose da vacina, permite novos planos, sonhos e inspira mudanças positivas.
Mas e quanto aos mais céticos, que não acreditam em energias espirituais e, ainda assim, desejam um ano mais próspero? As crenças não devem limitar os sonhos e desejos de libertação. Pequenos hábitos, como ouvir uma música gostosa ao acordar, acompanhado de uma xícara de chá quentinho, podem mudar todo o seu o dia. E até seu ano.
Para a bióloga e terapeuta Carla Moreira Ramos, 42 anos, todo fim e início de ano são marcados pelo sentimento de renovação. "Ninguém quer virar o ano e ter a mesma vida de antes, por melhor que tenha sido. Todos procuram e esperam alguma mudança. Mas, para isso, é preciso abrir espaço para o novo", afirma.
Carla ressalta que, embora 2022 já tenha começado e os rituais de virada preparados e feitos, a mudança principal vem de dentro e precisa durar o ano inteiro para que realmente faça diferença. Fã de organização e de Marie Kondo (especialista na área), há quase uma década Carla inicia todo ano com uma limpeza geral na casa, nos armários e em todos os seus objetos. Para ela, é um ritual de desapego e preparação para novas vivências.
Para a bióloga, ao eliminar o que não usa mais em casa, incluindo objetos de cozinha e decoração, ela sente que se prepara para tirar de sua mente e seu coração o que não faz mais bem. "É sobre eliminar tudo o que não faz sentido. Ao longo da vida, acumulamos itens que, com o tempo, deixam de fazer sentido, mas não queremos desapegar pelo que significou um dia. Ao mesmo tempo, queremos o novo, que só virá se abrirmos espaço", afirma.
Carla gosta de usar a técnica ensinada por Marie Kondo em seu livro e programa, avaliando que tipo de sentimento seus objetos trazem. Se não for alegria, é hora de doar ou jogar fora. Ao ritualizar o processo de organização da casa e dos armários, ela acredita que prepara também sua mente. "Fico mais leve, não fico entulhada, nem de coisas nem de sensações, sentimentos e hábitos que não combinam mais comigo ou que eu não quero continuar cultivando."
O processo é intuitivo e começa nos últimos meses do ano, perpetuando-se até janeiro. Limpar todos os sapatos, inclusive as solas, e passar as roupas que vai manter também ajudam a bióloga a se sentir preparada para novos desafios.
O simbolismo e a mente
Em seus estudos sobre a mente humana, Carla percebeu o quanto o simbolismo pode ser uma influência positiva para quem busca por mudanças. "Muitas vezes, queremos uma mudança em nós e não sabemos por onde começar. Fazer algo mais concreto, como renovar o guarda-roupa, acaba sendo o início de todo esse processo de organização da mente." Ela acredita que, percebendo ser capaz de organizar seu espaço físico, seu cérebro entende que você está apto também a organizar sua vida emocional e suas ideias e decisões.
A psicóloga ressalta a importância de seguir uma rotina e cumprir as metas a que se propõe. Isso traz uma sensação de dever cumprido e evita a frustração consigo mesmo. Vencer metas é um estímulo a continuar com as mudanças positivas, enquanto não cumpri-las aumenta a sensação de fracasso e insatisfação pessoal. "É importante, porém, investir em metas possíveis. Não adianta querer fazer muitas coisas e não levar adiante. É mais seguro escolher metas mais atingíveis e, conforme vencê-las, adicionar outras", explica Fernanda.
Porém, antes de investir nas mudanças, a psicóloga sugere uma autoavaliação baseada em autoconhecimento. Ao se conhecer e compreender, é possível avaliar o que se deseja e como conquistar. "Para mudar, é preciso entender primeiro o que se quer manter e o que se quer deixar para trás. E isso varia de pessoa para pessoa."
A massoterapeuta Iara Carvalho Guimarães, 34 anos, e a analista de recursos humanos Maysa Martins, 42, são do time espiritualista e apostaram em rituais especiais na noite do dia 31 de dezembro.
Iara passou a virada em casa e acendeu uma vela de sete dias para seu anjo protetor, além de preparar uma mistura de mel, água e canela para atrair prosperidade e ofertar rosas brancas a Oxalá e a Jesus Cristo, para a abertura de seus caminhos. Este ano, segundo as crenças de Iara, será regido por Iemanjá, e ela passou a noite vestida de azul, para atrair as boas energias da orixá.
Mas a massoterapeuta não se agarra apenas às forças espirituais. Ela acredita que é necessário fazer a sua parte para garantir um ano melhor. Durante todo o mês de dezembro, investiu na saúde física e mental, evitando inclusive ter contato com notícias e situações negativas.
Ela sugere que mesmo quem não tem religião ou não acredita em nada mantenha pensamentos positivos nos primeiros dias do ano, atraindo para si o que deseja. Enfeitar a casa com flores ou mesmo oferecer uma a um desconhecido, doar algo que não usa mais ou fazer o bem ao próximo são alguns dos gestos que Iara considera universais.
"Independentemente de rituais e crenças, quando agimos com a caridade do nosso coração, o resultado só pode ser bom. E para completar, uma frase que me toca que é não sofra com o passado, não anseie pelo futuro, viva o presente", completa.
Ervas e proteção
Maysa, assim como Iara, é umbandista e tem nos banhos de ervas um dos rituais preferidos de início de ano. A analista de recursos humanos segue também as orientações de sua religião, com preceitos como orações e agrados aos orixás e entidades.
Nas duas últimas semanas de cada ano, ela acende velas de sete dias para agradecimento e proteção. Na última semana, Maysa faz uma faxina na casa, limpando de dentro para fora e despachando a sujeira para longe. Em seguida, vem uma limpeza de fora para dentro, com essências de alfazema, rosa branca e água de arroz, com o intuito de atrair as boas energias.
"Limpo também os móveis e uso água de alfazema para remover as energias negativas. É uma limpeza dupla, física, removendo a sujeira mesmo, e espiritual, removendo impurezas e energia parada", explica. O mesmo acontece com as roupas. Ela doa o que não usa mais, estimulando a caridade e o auxílio ao próximo, e abrindo espaço para o novo.
Quando está na praia ou perto de uma cachoeira na noite do dia 31 para o dia primeiro, Maysa toma um banho na água corrente ou no mar, garantindo assim uma limpeza espiritual. Ela também costuma ofertar rosas brancas a Iemanjá e reforça a importância de oferendas orgânicas, que não deixem resíduos na natureza. "Na Umbanda, temos uma preocupação muito grande com o meio ambiente, então cada vez mais estimulamos essa consciência com relação às oferendas que deixamos para os orixás."
Este ano, a virada foi em Brasília e, para garantir a renovação, Maysa investiu em um banho de ervas e acendeu uma vela para seu anjo da guarda. Ela preparou também um altar com flores e fez diversas orações em agradecimento. Com o banho em dia e a vela acesa desde o dia 31, agora Maysa espera pelo dia 20, em que comemora o orixá Oxossi.
Além dos rituais em busca da abertura de caminhos, agradecimento e proteção, Maysa carrega sempre consigo um amuleto — uma guia de proteção sempre lavada com ervas e que garante que ela esteja acompanhada de energias benéficas.
Este ano, assim como em 2021, Maysa fez uma prece de agradecimento no dia 31. Apesar de ter sofrido com a perda de alguns parentes de amigos, como o pai de sua melhor amiga, ela não perdeu nenhum familiar para a covid-19. "É uma prece muito especial, de agradecimento, e também enviando boas energias para quem precisa e está sofrendo."