Os riscos dos esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) para o coração continuam mesmo após a interrupção do uso, mostram dois novos estudos apresentados no 25º Congresso Europeu de Endocrinologia, que acontece em Istambul, na Turquia. Os resultados são de trabalhos de pesquisadores do Hospital Universitário Rigshospitalet de Copenhagen, na Dinamarca.
Os EAA são formulações sintéticas que imitam a testosterona, utilizados de forma indevida para aumentar a massa muscular e o desempenho esportivo. Devido aos altos riscos para a saúde envolvidos na prática, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu, no início de abril, que eles sejam prescritos para fins estéticos ou de ganho de performance.
Os pesquisadores dos novos trabalhos lembram que, entre os efeitos, estão aumento de risco cardíaco, insuficiência hepática ou renal, disfunção erétil, entre outros mais leves, como crescimento de seios e perda de cabelo, entre os homens, e aumento de pêlos e engrossamento da voz, entre as mulheres.
No entanto, pouco se sabe a respeito desses riscos para ex-usuários dos EAA. Para entender melhor esse cenário, os pesquisadores acompanharam 64 homens saudáveis, com idades entre 18 e 50 anos, no país europeu, que faziam musculação. Deles, 28 eram usuários dos esteroides anabolizantes, 22 já haviam utilizado, porém tinham parado, e 14 nunca usaram.
Eles, então, avaliaram a quantidade de sangue que flui para o músculo cardíaco durante o repouso e o exercício, usando uma tomografia computadorizada com um marcador que permitia acompanhar mudanças nesse volume. Os resultados mostraram que os ex-usuários eram mais propensos a ter esse mecanismo ruim, e portanto, a desenvolver doenças cardíacas, quando comparados àqueles que nunca aderiram aos EAA.
No segundo estudo, os pesquisadores coletaram questionários e amostras de sangue para medir os níveis de testosterona de outros três grupos de homens, com idades entre 18 e 50 anos. 89 eram usuários atuais de EAA, 61 eram ex-usuários e 30 homens nunca haviam utilizado o hormônio sintético.
Após analisar os resultados, eles constataram que os ex-usuários relatam pior qualidade de física em aspectos físicos e de saúde mental, como fadiga, funcionamento social e bem-estar emocional. Isso embora tenham deixado de usar os anabolizantes anos antes. Além disso, eles apresentaram níveis de testosterona mais baixos em comparação com aqueles que nunca usaram os EAA.
Isso acontece porque, quando você recebe o hormônio de forma sintética, seu organismo para de produzir a testosterona natural para não causar um quadro de excesso da substância. Porém, isso com o tempo pode atrofiar a glândula responsável e levar a uma disfunção na produção hormonal.
"Nosso estudo acrescenta ao crescente corpo de literatura que uma qualidade de vida prejudicada em usuários anteriores de esteroides anabolizantes parece persistir anos após a cessação e pode ser causada por abstinência e/ou sintomas de hipogonadismo devido a uma queda repentina nos níveis de testosterona no sangue", disse Bulut. “Infelizmente, uma pior qualidade de vida relatada pode ser uma razão para ex-usuários começarem a reutilizar esses esteroides novamente”.