Fabiano acordou-se meio zonzo, ressaca, estava deitado na cama de num camarote em alto mar, lembrava os detalhes do dia anterior quando embarcou no navio de luxo por volta de quatro horas da tarde, rumo à Belém do Pará. Guardou a mala no camarote, colocou um bermudão, camisa florada, foi à piscina, no bar pediu uísque enquanto o navio desatracava do cais, movia-se de lado feito um paquiderme de metal, tomou rumo à imensidão do Oceano Atlântico. O porto parecia se distanciar, a cidade do Recife foi se apequenando até desaparecer na linha do horizonte. À sua volta alguns passageiros à beira da piscina, outros turistas tomavam drinques comemorando a vida em alto mar. Fabiano entrou no clima de festa, entrosou-se com outros passageiros. Seriam três dias em alto mar até Belém, precisava preencher o tempo. Afinal era um rapaz de 25 anos, solteiro, sem algum compromisso. Com o olhar revistou encarando as passageiras, algumas interessantes. Apareceu o comandante do navio, contou aventuras e mentiras, tomou uísque, simpatizou com Fabiano, viajante solitário.
Às 20 horas o jantar foi servido, mesas distribuídas no amplo salão, Fabiano e mais quatro passageiros tiveram o privilégio de sentar-se à mesa do comandante, Sara e Raquel, irmãs, em torno dos 17 anos e sua tia, pernambucanas, viajavam para conhecer Belém, o outro convidado, um paulista de pouca conversa, dizia-se poeta. Depois do jantar o comandante se fez cupido obrigando os jovens a dançarem. Rolou alguns apertos e cheiros, as jovens estavam vigiadas por uma severa tia, depois da meia noite se recolheram. Fabiano deu uma volta no salão, ficou empolgado pelo olhar de uma coroa bonita, parecia ser rica em busca de aventura, sentou-se ao lado dela, conversaram, divertiram-se. A noite não havia acabado ela ficou bêbada, foi arrastada pelas amigas.
Esses eram os acontecidos da noite anterior lembrados por Fabiano deitado olhando para o teto do camarote. Levantou-se, tomou um banho demorado, ao vestir uma bermuda frouxa ouviu conversa, abriu a porta do camarote, duas camareiras tagarelavam. Ao vê-lo a mais baixa, rechonchuda, perguntou.
– Vai tomar café? Posso arrumar seu camarote?
Ele balançou a cabeça consentindo e dirigiu-se à sala de refeições, comeu apenas frutas. Ao retornar ao camarote, encontrou a jovem passando o aspirador, ela brincou, “pode entrar a casa é sua” e deu uma gargalhada provocante. Fabiano percebeu a beleza da gordinha, pele alva, cabelos encaracolados, boca carnuda, carmim, olhos oblíquos irradiando bom humor e sensualidade. Conversaram, divertindo-se, ela nascida em Macapá, morava em Belém, no final dessa viagem, entraria em férias iria gozá-las com a família.
Fabiano atraído pela graça espontânea e provocante de Verbena chegou-se perto, tirou o aspirador de sua mão, olhou nos olhos, pediu desculpas, encostou os lábios nos dela, Verbena abriu a boca. Durante o resto da viagem não mais fecharam a boca. Quando podia a camareira fugia para o camarote do amor passageiro onde ele explorava seu corpo, sua pele, seus encantos, até que dormiam. Amor em alto mar alcovitado por Netuno e Iemanjá, sentinelas entreolhando escotilha à dentro os dois amantes.
Em Belém Fabiano tomou hotel, esperou mais de uma semana por um navio menor para continuar a viagem aventureira, desejava conhecer, sentir, a imensidão exuberante região Amazônica, aportando nas pequenas cidades ribeirinhas até chegar a Manaus. Passou uma semana e meia de amor em Belém com Verbena, apreciando a belíssima cidade, tendo a namorada como cicerone. Fabiano conheceu suas quatro irmãs: Rosa, Hortência, Dália, Margarida, todas com nome de flor, além de Verbena, a bela camareira, seu amor passageiro e inesquecível. A viagem aconteceu há mais de 50 anos no navio Princesa Isabel.