Penedo cidade da pedra; penedo, rocha, rochedo. Penedo das ruas estreitas, dos casarões repletos de história. Penedo do Velho Chico, bela cidade para se viver um grande amor. Muitos amores aconteceram tendo o Rio São Francisco por testemunha, muitas histórias de amor se escondem nos seus belos casarões. Penedo, paixão, belas histórias de amor. Penedo de Mauro e Heloísa.
Mais de meio século nos separam daquele Penedo dos casarões, das famílias tradicionais. Heloísa nasceu no berço da aristocracia alagoana família secular, ainda menina chamava atenção pela beleza, pelo bom humor e inteligência. Além da Escola ela tinha aulas particulares de piano, tornou-se uma das maiores pianistas das Alagoas. Certa vez, Paschoal Carlos Magno ao ouvir Heloísa executando as Bachianas de Villa Lobo, implorou a seus para que a moça estudasse no conservatório de música na capital do país, o Rio de Janeiro. Ela não ligou a negativa do pai, Heloísa adorava sua cidade, Penedo.
Aos 16 anos encontrou um jovem falante que a sensibilizou numa festa de rua de natal, foi paixão simultânea. Acontece que o jovem Mauro, também de família tradicional, apenas com 18 anos já era um dos grandes boêmios da cidade, frequentador assíduo da zona do Camartelo, gostava do chamego com as mulheres dos cabarés. Certa noite foi recolhido à cadeia por arruaças numa boate. Vivia nos botequins e na boemia. Tinha a seu favor a simpatia e uma eloquência encantadora. Inteligente, bom aluno planejava fazer vestibular na Faculdade de Direito em Maceió. Assim como os polos antagônicos se atraem, Heloísa ficou atraída, encantada com o bonito rapaz. Os pais consentiram o namoro com muitas restrições. Formavam um belo casal. Viviam uma paixão de jovens românticos em passeios às margens do velho Chico.
Mauro fazia força para ficar sossegado, mas não resistia, à noite caía na gandaia. Na zona do Camartelo era conhecido por todas as raparigas. Certa vez virou a noite, o dia amanhecia quando ele e os amigos bêbados fizeram uma serenata no casarão da família de Heloísa. O pai pediu que ela acabasse aquele namoro, houve pressão. Ela deu mais uma chance para o namorado.
No início de fevereiro o pai de Mauro faleceu. Foi um enterro comovente, era muito querido na cidade. Quinze dias depois iniciava o animado carnaval de Penedo. Heloísa como não podia brincar devido ao falecimento do sogro, foi passar o carnaval na fazenda em Piranhas. Quando retornou na quarta-feira de cinzas, as amigas contaram tudo. Mauro não aguentou os acordes metálicos do frevo, caiu no passo durante os três dias de carnaval na rua e no clube. Heloísa no mesmo instante escreveu uma carta acabando o namoro e mandou entregar a carta a Mauro. Foi definitivo. A família de Heloísa não admitiu a falta de respeito de Mauro com o pai morto há pouco tempo e ele brincar o carnaval.
Cada qual para seu lado. Muitos anos se passaram, Heloísa casou-se com um primo em Penedo, continuou uma virtuosa pianista, quando enviuvou teve o consolo de seus 5 filhos e 8 netos. Mauro cursou a Faculdade de Direito, tornou-se um famoso advogado. Ainda hoje trabalha duro em seu escritório, também ficou viúvo com 5 filhos e 8 netos.
No início desse ano Mauro levou um amigo paulista, historiador, a Penedo. Visitou a Fundação Casa do Penedo, um museu vivo onde se respira história, sonho e invenção do Dr. Francisco Salles, um penedense amante da terra. Certa hora Mauro ouviu um piano belíssimo, ele comovido com a música ao longe perguntou de onde vinha. Alguém informou que era festa de aniversário de uma senhora muita querida, Dona Heloísa. Seu coração voltou à juventude. Pediu licença aos amigos, caminhou em direção à música suave do piano que envolvia a bela noite. Entrou no casarão como se fosse um convidado. Seu coração encheu-se de ternura ao ver Heloísa embevecida tocando seu velho piano. O tempo não foi cruel com ela, tornou-se uma linda senhora. De repente Heloísa olhou ao lado, seus olhos cruzaram com os de Mauro, reconheceu seu amor de sua juventude. Um sentimento forte tomou conta, uma alegria invadiu sua alma, inspirou-se, tocou como nunca havia tocado. Ao terminar a audição, feliz da vida foi cumprimentar seu amigo, seu amor de juventude.
Mauro e Heloísa conversaram bastante, almoçaram juntos no dia seguinte. Encontraram-se várias vezes em Maceió e Penedo. Precisou muita discussão, muita vontade e força para que vencessem a resistência dos filhos. Atualmente Mauro e Heloísa estão viajando pelo mundo. Desfrutando do grande amor, amor maduro. Venceram a resistência dos filhos e netos de ambos os lados, estão em plena lua-de-mel, às vezes recordando os velhos tempos e como era o amor no tempo do Velho Chico.