AMOR DE RAPARIGA
Raimundo Floriano
Rapariga na viração
Conheci Benedito Honório por acaso. Por tabela.
No ano de 2003, doei 100 exemplares do meu livro Do Jumento ao Parlamento ao Batalhão de Polícia do Exército de Brasília – BPEB, cujo Comandante me convidou para uma happy hour no quartel daquela Unidade, onde eu concederia autógrafos aos militares aquinhoados.
Foi uma bonita festa, emocionante para mim, pois vi ali na fila, esperando receber seu exemplar, do Comandante ao Corneteiro. Dentre eles, o Major Blum, já na reserva, da Turma de 1959 da Escola de Sargentos das Armas – EsSA, hoje dileto amigo, que me pediu mais um para remeter a Benedito Honório, o seu colega de turma, também já reservista, residente em João Pessoa (PB), na Praia de Manaíra.
Uns meses depois, o próprio Benedito Honório veio visitar-me aqui em Brasília, ocasião em que lhe mostrei todo o meu acervo literomusical. Meses mais tarde, em passeio pela Paraíba, fui à casa dele, onde conheci toda sua família, inclusive a recém-nascida Cecília – homenagem à Santa Padroeira da Música –, consolidando uma grande amizade, que a cada dia mais se fortalece.
Vou dizer um pouco de Benedito Honório.
Depois que saiu da EsSA, formou-se em Direito e, mais tarde, deixou o Exército para ingressar no Serviço Público, sendo, hoje, Consultor Jurídico.
É músico, clarinetista, compositor, poeta, escritor e cordelista. Com seus conhecimentos junto à classe artística paraibana, elegeu-se Presidente da Ordem dos Músicos da Paraíba.
Tem composições suas, ou com parceiros, gravadas pelos grandes intérpretes nordestinos, sendo o principal deles o saudoso forrozeiro Manoel Serafim, a quem conseguia trabalho nos tempos das vacas magras e a quem ajudou e protegeu durante a enfermidade que, infelizmente, levou o cantor à morte.
O último CD de Benedito Honório, lançado em 2004, Coletânea de Ritmos Diversos, com intérpretes como Jairo Aguiar, Paulo Germano, Fátima Lima, Ailton Vieira, Manoel Serafim, Claudionor Germano, Gino Liver, Jadir Camargo e Meves Gama, e arranjos de Maestro Chiquinho, Maestro João Lira, Maestro Ramalho, Joca do Acordeom, Duda da Passira e Maestro Duda, é uma excelente amostra de seu talento e de sua versatilidade.
Naquela viagem à Paraíba, pra todo lugar aonde eu ia, a música mais tocada era Amor de Rapariga, constante do CD Sacudindo o Forró, cujo refrão “amor de rapariga é que é amor/amor de rapariga é bom demais” não me saía mais da cabeça.
Ao retornar a Brasília, telefonei logo para o Honório, pedindo-lhe que adquirisse o disco e o mandasse para mim.
Meu amigo não só me remeteu o CD, que hoje enriquece a minha coleção de Forrós, como fez um cordel relativo ao tema, enfatizando que era “exclusivo para Raimundo Floriano”. Guardo os versos com carinho, mas acho tremendo egoísmo conservá-los só para meu gasto. Por isso, e suplicando perdão ao fraterno Benedito Honório pela inconfidência, disponibilizo este inspirado e engraçadíssimo cordel, para o deleite de toda a comunidade fubânica.
AMOR DE RAPARIGA É BOM DEMAIS?
(Benedito Honório)
Embora com muito atraso
(Espero, sem desengano)
Estou cumprindo o acerto
Antes que complete um ano
Implorando mil desculpas
Caro amigo Floriano.
Conforme já lhe falei
Adquiri, sem intriga
O “Sacudindo o Forró”
Com o AMOR DE RAPARIGA
Música que tem gerado
Muito bafafá e briga.
Um rapaz conhecido meu
Muito sério e bem casado
Passou na loja e comprou
O CD tão festejado
Chegou em casa dizendo:
“EITA DISCO ARRETADO!”
Sua esposa, espantada
Com aquela afirmação
Exigiu do maridinho
Uma clara explicação:
Por que o dito CD
Levava à tal conclusão?
Como resposta, o marido,
De imediato, pôs
O CD no mini-system
Não deixando pra depois
Apertou a tecla certa
Ou seja, na Faixa Dois.
Após a introdução
Ouviu-se a voz de um rapaz
Cantando a letra que diz
De forma clara e loquaz
Que AMOR DE RAPARIGA
Certamente É BOM DEMAIS!
Aí, o tempo esquentou
Naquele lar sempre unido.
Entendendo a mulher
Que o seu homem querido
Com algumas raparigas
Estava sendo envolvido.
Depois de um bate-boca
Foram às vias de fato
Ele deu-lhe uns safanões
Ela jogou-lhe o sapato
Era um cenário digno
De um cabaré barato.
Em seguida, se agrediram
De coice, murro, empurrão
Por cima de cama e mesa
Pote, panela e fogão
Quebraram, até, uma gaiola,
Onde tinha um azulão.
Nesse vai-e-vem rasgaram
Quatro sacos de farinha
Tinha uma galinha choca
Deitada lá na cozinha
Caíram por cima dela
Esbagaçaram a bichinha.
Um amigo do rapaz
Chegou e foi pressentindo
Que aquela lenga-lenga
Não tinha caráter lindo
Tomou partido e ficou
A FAIXA DOIS repetindo.
Com isso, aquela esposa
Ficou mais indignada
Pulava que nem cabrita
Quando se vê desmamada
Quanto mais ouvia a música
Mais ficava aperreada.
Por volta de meia-noite
Sem nenhum raio de luz
A mulher muito esgotada
Gritou: “Valha-me Jesus!”
Com dois pedaços de pau
Improvisou uma cruz.
Nesse momento ouviu-se
Um grandioso pipoco
Era o SOM que espatifava
Deixando o marido mouco
Por coincidência o CD
Caiu em cima de um toco.
Num prego existente ali
Foi-se o disco encaixar
Surgiu uma ventania
Sem ter como explicar
O certo é que o CD
Começou logo a rodar.
Um trovão bastante forte
Trouxe um raio bem fugaz
Caindo na Faixa Dois
Dizendo uma vez mais
Que o AMOR DE RAPARIGA
Com certeza É BOM DEMAIS.
O vento soprou mais forte
De um jeito esquisito
Açoitando o tal CD
No rumo do infinito
Entrou em órbita e sumiu
É verdade, tenho dito.
Uma fumaça vermelha
Surgiu com a ventania
No meio tinha uma luz
Transformando a noite em dia
Via-se um JUMENTO ALADO
Relinchando em latomia.
O amigo do marido
Partícipe da confusão
Foi, então, abduzido
Sem qualquer reclamação
Montado no asinino
Sumiu na imensidão.
O casal voltou “às boas”
Formam, hoje, um par romântico
Vivem de casa pra igreja
Ensaiando um novo cântico
Estão em lua-de-mel
Atravessando o Atlântico.
E como prova do fato
Remeto do tal CD
A capa (ou caixa?) que vai
Como brinde pra você
O CD que estou mandando
SÓ ALEGRA, pode crer!
Para que todos conheçam a melodia, aí vai o Amor de Rapariga, com o Forró Sacode:
Rsrsrs....muito bom ler seus causos Cardeal...e amor de rapariga é bom demais!!!....afinal não tem compromisso.... rsrsrsrs
Prezado primo,obrigada pelos versos e pela música Rapariga é Bom Demais. Gostei muito. Os homens que se cuidem se não souberem dos quereres de uma rapariga.Que bom o casal ter viajado . Quantas travessuras! Porque amor de rapariga ė bom demais . Com carinho e admiração , Teresa Cristina
Primo Raimundo Floriano , Cardeal de minha igreja , agora entendo esse conhecimento que você e seus amigos têm com as raparigas . Delas conhecem não apenas o seu amor como o quarto cheio de adereços cor -de-rosa. Linda a reação da esposa de Benedito Honório .Será que , por alguns instantes , em meio a tapas e beijos, explicações e danadices, pôde experimentar um pouco de seu lado rapariga mas com o marido ? Gosto “ por demais “ de seus casos e histórias .Às vezes chego a duvidar que tenham ocorrido , mas você logo nos envia o comprovante . Obrigada . Que Cardeal maus arretado , hein?! Teresa Cristina da Silva Néto., 13 de novembro de 2020