AMOR DE MENTIRAS (POEMA DO ACRIANO J. G. DE ARAÚJO JORGE)
AMOR DE MENTIRAS
J. G. de Araújo Jorge
Eram beijos de fogo..eram de larvas,
E sabiam a sonhos e ambrosias..
Como pensar que a boca com que os davas
Era a mesma, afinal, com que mentias ?!
Se eras a mais humilde das escravas,
Em dádivas, anseios, alegrias..
Como prever que o amor que me juravas
seria mais uma das tuas heresias ?!
Como supor ser tudo um falso jogo?
E crer que se extinguisse aquele fogo..
que acendia em teus olhos duas piras ?!
E descobrir.. no instante em que me amavas..
Que em tua boca ansiosa misturavas
Ao mesmo tempo beijos e mentiras ?!
Eram brancas as mãos..brancas e puras..
Mãos de lã..de pelúcia..mãos amadas..
Como prever..vendo-as fazer ternuras,
Que nas unhas traziam emboscadas ?!
Era tão doce o olhar..em conjeturas
felizes..e em promessas impensadas...
Como enxergar, portanto, as amarguras..
E as frias traições nele guardadas ?!
Como pensar em duas, se somente
uma eu tinha em meus braços..e adorava..
E a outra.. uma impostora..se mantinha ausente..
E, afinal, como ver, nessa alegria..
Que o amor que tanta vida me ofertava..
Seria o mesmo que me mataria ?!