AMELINHA, CADÊ VOCÊ
Raimundo Floriano
Tomei conhecimento da existência de Amelinha a partir do final dos Anos 1970, quando a Música Nordestina passava por uma fase de renovação, pelo menos para quem, nestes lados do Sul, não conviviam com o cenário forrozeiro do Recife e adjacências.
Amelinha veio surgindo e conquistando meu gostar a conta-gotas. Ela já lançara, em 1977, o LP Flor da Paisagem, que não apareceu por estas bandas. Em 1979, surpreendeu-me com o LP Frevo Mulher, cuja música que o nomeou, um frevo-canção de Zé Ramalho, estourou no Carnaval, sendo a música mais tocada e cantada nos salões. Em 1980, no LP Porta Secreta, a toada Foi Deus Que Fez Você, de Luís Ramalho, enterneceu o Brasil, enquanto o arrasta-pé Gemedeira, de Robertinho do Recife e Capinam, pôs todo mundo para balançar o esqueleto.
Os três primeiros LPs de Amelinha
Mas foi no Carnaval de 1981, com o frevo-canção Siri na Lata, de Carlos Fernando, no LP Asas da América - Volume 2, de meados do ano anterior, que ela me ganhou de vez. E, a partir de então, passei a incorporar a minha coleção todos os discos que gravou.
Asas da América foi um projeto audacioso do compositor, músico e cantor Carlos Fernando, iniciado em 1979, numa empreitada que, para seu espanto, agradou por completo os curtidores da MPB, demonstrando que o frevo é um tipo de música para ser cantado e tocado o ano todo e não só no Carnaval, como alguns assim pensavam. O mais importante, a meu ver, foi que, além da nova roupagem para o frevo-canção, o projeto, que já chegou ao Volume 6, revelou ao mercado fonográfico novos talentos femininos. Foi ali que tomei conhecimento da existência de Elba Ramalho, Terezinha de Jesus, Teca Calazans e Amelinha.
Os três primeiros lançamentos do projeto Asas da América
Amélia Cláudia Garcia Collares Bucaretchi, a Amelinha, nasceu em Fortaleza (CE), no dia 21 de julho de 1950. Aos 20 anos de idade, mudou-se para São Paulo (SP), onde se formou em Comunicação Social.
Começou a cantar amadoramente, participando de shows do conterrâneo Raimundo Fagner. Em 1974, passou a atuar em programas de TV. No ano seguinte, viajou com Vinícius de Moraes e Toquinho, com os quais estrelou temporada dupla, fazendo-se notar na MPB na mesma época em que uma leva de artistas nordestinos era chamada genericamente de “Pessoal do Ceará”, dentre os quais o próprio Fagner, Ednardo, Belchior, Zé Ramalho, com quem Amelinha se casou, Geraldo Azevedo, Fausto Nilo e Robertinho do Recife.
Sua entrada individual no mercado fonográfico aconteceu no ano de 1977, na gravadora CBS, com o LP Flor da Paisagem, supramencionado. A partir de então, apontada como revelação nordestina, conheceu o sucesso e a fama.
Em 1982, lançou o LP Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor, nome tão comprido quanto a faixa que o nomeou: 6 minutos. Essa toada, composta por Zé Ramalho com versos de Octacílio Batista, foi um dos maiores sucessos de venda de Amelinha e serviu de tema para o seriado Lampião e Maria Bonita, exibido pela Rede Globo. Em 1983, gravou o LP Romance da Lua Lua, obtendo enorme êxito com a faixa-título, canção de Garcia Lorca e Flaviola. Em 1984, Amelinha encetou nova fase em sua carreira. Separada de Zé Ramalho, que produzira três de seus primeiros cinco discos e compusera muitos de seus sucessos, entregou sua voz à produção de Mariozinho Rocha e ao acompanhamento instrumental do grupo Roupa Nova, gravando o LP Agua, Luz, com destaque para a canção Tempo Rei, de Gilberto Gil.
Em 1985, lançou o LP Caminho do Sol, enfatizando a canção Vida Boa, de Armandinho e Fausto Nilo. Deixando a CBS, lançou, em 1987, pela Continental, o LP Amelinha, incluindo o sucesso Mistérios do Amor, de Tavinho Paes, Paulinho Lima e Serge Clemens. Em 1989, montou o espetáculo Saudades da Amélia, com repertório de compositores da moda, tais como Chico Buarque, Tom Jobim e Caetano Veloso, percorrendo vários teatros do país, sob estrondosos aplausos. Após sete anos sem gravar, voltou, em 1994, desta vez com o selo Polydor, lançando o primeiro CD, Só Forró, no qual, além de gravar clássicos do gênero, revelou diversos compositores emergentes no cenário forrozeiro.
Em 1996, na mesma gravadora, lançou o CD Frutamadura, com destaque para o arraste-pé o Pra Tirar Coco, de Messias Holanda, e trazendo de volta Siri na Lata. Em 1998, lançou, pela Sony Music, o CD Amelinha, incluindo o xote Espumas ao Vento, de Accioly Neto. Em 1999, realizou turnê por todo o Brasil, com músicas inéditas desse novo disco. No ano de 2000, a Polydiscos lançou dois volumes da coletânea de seu trabalho, denominados 20 Super Sucessos.
Em 2001, lançou, pela Seven Music, o CD Vento, Forró e Folia, no qual reapresenta Frevo Mulher. Em 2002, participou, com Belchior e Ednardo, do CD Pessoal do Ceará, onde relembra o início de sua carreira. Finalmente, em 2011, pela marca Joia Moderna, especializada em cantoras e pertencente ao DJ Zé Pedro, lançou o CD Janelas do Brasil, com repertório completamente inédito.
Neste despretensioso perfil, intentei mostrar-lhes toda a iconografia dos LPs e CDs que Amelinha estrelou até agora, perfazendo mais de 180 peças da mais autêntica Música Popular Brasileira. Com um acervo de tal magnitude, e diante do ocaso que a mídia lhe reservou, só me resta, agora, modificando minha interrogação que encabeça esta matéria, perguntar a todos os órgãos de comunicação responsáveis por isso:
– Mídia, cadê a Amelinha?
E, para que vocês recordem, aí vai o frevo-canção Siri na Lata, com o qual Amelinha entrou na bem-querença de meu gosto musical:
Não poderia faltar Frevo Mulher, frevo-canção de Zé Ramalho, sucesso absoluto no Carnaval de 1979:
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