Casos de doença inflamatória intestinal — grupo que inclui Crohn e colite ulcerosa — aumentam no mundo, e a alimentação é apontada como um dos fatores que contribui para isso. Uma dieta de alta qualidade aos 12 meses de vida pode reduzir significativamente o risco de desenvolver a condição mais tarde, segundo um estudo de longo prazo, publicado ontem na revista Gut.
Nesse estudo há dados de dois levantamentos nacionais. Um deles com 21,7 mil crianças; o outro com 114,5 mil, acompanhadas desde a década de 1990, quando nasceram, até 2021. Os pais responderam a um questionário sobre a dieta dos filhos entre 12 e 18 meses e entre 30 e 36 meses.
A qualidade da dieta, obtida a partir da medição do consumo de carne, peixe, frutas, vegetais, laticínios, doces, salgadinhos e bebidas, foi avaliada por um índice nutricional, adaptado para crianças. A frequência semanal de grupos alimentares específicos também foi investigada.
Dietas de média e alta qualidade ao primeiro ano foram associadas a um risco geral 25% menor de doença inflamatória intestinal. O consumo elevado de peixe nesta idade foi especificamente relacionado à chance diminuída de se desenvolver a condição mais tarde: 54% a menos, comparado ao grupo que ingeria pouco o alimento.
O estudo não estabelece causa e efeito, mas os autores dizem, no artigo, que as descobertas "são consistentes com a hipótese de que a dieta no início da vida, possivelmente mediada por alterações no microbioma intestinal, pode afetar o risco de desenvolver DII".
Ambos os estudos destacam que o consumo de bebidas açucaradas aumentou em 42% o risco de doenças inflamatórias intestinais. Os pesquisadores recomendam que as crianças sejam alimentadas com frutas, vegetais e peixes, e que os pais evitem produtos processados.
A médica nutróloga Marcela Gaez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, destaca que o consumo exagerado de alimentos ultraprocessados e pró-inflamatórios têm um importante papel nas doenças inflamatórias intestinais, assim como fatores de estilo de vida, como má qualidade do sono e sedentarismo.
"As pessoas com esses problemas de saúde acreditam que eles sejam causados somente pela alimentação, mas há estudos que relacionam o cérebro e as emoções com a origem", alerta. (PO)