Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão segunda, 31 de maio de 2021

ALICE E O PREFEITO: ACLAMADO PELA CRÍTICA FRANCESA, FILME CHEGA AO BRASIL

 

Aclamado pela crítica francesa, 'Alice e o Prefeito' chega ao Brasil

Filme sobre uma assessora que vai trabalhar com o prefeito de Lyon trata sobre política e políticos - e o embate entre ideia e ação

Luiz Carlos Merten , Especial para o Estadão

31 de maio de 2021 | 05h00

Nicolas Pariser conversa com a reportagem do Estadão pelo telefone, de Paris. A primavera parisiense está convidativa. Os cinemas reabriram, os restaurantes – tudo com rígidos protocolos de segurança. A vida está voltando, mas todo cuidado é pouco. A chamada terceira onda da covid é uma sombra no horizonte. Pariser é o diretor e roteirista de Alice e o Prefeito, que estreou nesta semana, presencialmente, nos cinemas brasileiros. 

 

Alice e o Prefeito
Fabrice Luchini e Anaïs Demoustier em cena do filme francês 'Alice e o Prefeito' Foto: Arte France Cinema
 

O repórter começa fazendo um mea-culpa. Pela sinopse – garota vai trabalhar como assessora do prefeito de Lyon –, poderia ser uma comédia romântica. Hollywood com certeza faria uma. Só que o tempo passa, a história anda e o romance não vem. Alice e o Prefeito é sobre política e os políticos. “Mostramos o filme no Eliseu (residência do presidente) para o presidente Emmanuel Macron. A Associação de Prefeitos da França também usou o filme como ferramenta para um debate nacional. Fizemos mais de 750 mil espectadores nos cinemas, o que é muito bom, considerando-se que houve a pandemia.”  

Macron gostou? “Mais do que gostar, acho importante destacar que ele considerou o filme uma tentativa válida de debater uma questão que é visceral na política – o embate entre ideia e ação.” Mas vamos com calma. Antes de mais nada é preciso falar sobre o ator que faz o prefeito. “O filme nasceu formatado para Fabrice Luchini. Não sei quanto ele é conhecido no Brasil, mas, na França, Patrice é reconhecido como grande ator.” O repórter arrisca – Luchini é um pouco a versão masculina de Isabelle Huppert. “São talvez os nossos maiores atores vivos. Os dois interpretam seus personagens com um distanciamento crítico que faz da arte da representação um ato reflexivo.” 

Anaïs Demoustier, a Alice? “Ela tem esse olhar, o sorriso de quem percebe o ridículo das situações.” Na trama, Alice é uma intelectual contratada para assessorar o prefeito de Lyon (Luchini). Sua função não é específica, mas ela tem de fornecer ideias ao político. Sua interferência no funcionamento do palácio municipal provoca a ciumeira da equipe. O prefeito é um potencial candidato à presidência. É preciso afastar Alice, antes que o surto de autocrítica que ela estimula produza o desastre da candidatura. 

Por que Lyon? “Sou parisiense, mas queria uma cidade do interior que não fosse pequena. Cheguei a pensar em Bordeaux, mas terminei optando por Lyon por uma série de fatores. Apoio à produção, a importância política de Lyon, o seu significado nos primórdios do cinema.” Lyon vira personagem, com suas ruas e praças, o palácio, a Ópera. “Que bom que você percebeu. Fizemos uma extensa pesquisa para integrar a cidade à ficção.” Como filme de ideias, Alice e o Prefeito termina por mostrar dois personagens que não interagem romanticamente, mas se influenciam mutuamente. Ambos mudam. No final, olha o spoiler, reencontram-se para uma espécie de (re)avaliação dos respectivos caminhos. 

Alice virou mãe. Quem é o pai da criança? “Isso nunca foi uma preocupação. Você tem algumas opções no filme, mas deixar a questão em aberto é uma forma de dizer que não chega a ser uma questão no filme.” A política e os políticos, esquerda e direita, a filosofia e as ciências sociais, as ideias. Todos esses temas e embates atravessam Alice e o Prefeito. O próprio nome, Alice, possui conotações. No País das Maravilhas? “Só se for o reverso”, reflete Pariser. E que tal falar um pouco sobre a forma? Nesse quesito, é difícil, senão impossível, buscar uma conexão do filme de Pariser com o cinema de Eric Rohmer. 

  

Luchini é, ou foi, ator de Rohmer. Pariser lembra – “Fui aluno dele (de Rohmer) na Sorbonne. Seus filmes abordam as ambiguidades nos relacionamentos de homens e mulheres”. Coincidência ou não, o repórter cita o estudo sobre Rohmer na revista de língua inglesa Cineaste. Rohmer e os limites do desejo. “O filme se inspira no dinamismo dos diálogos e na funcionalidade da mise-en-scène de Rohmer. Era um minimalista. Elegante, econômico. Mas, sem o desejo, nosso filme propõe um Rohmer não rohmeriano.” 

Na França, Alice e o Prefeito não fez sucesso só de público, mas também de crítica. Jornais (Libération, Le Figaro) e revistas (Positif, Cahiers du Cinéma, Transfuge) tradicionalmente antagônicos uniram-se nos elogios. Unanimidade? “Creio que o importante foi que o filme surgiu num momento em que a sociedade está predisposta a debater a política, e os políticos.” E mais – “O Brasil tem estado no centro de discussões em todo o mundo. Questões sobre a pandemia, a floresta. Não sou nenhum especialista sobre o Brasil, mas creio que o filme tem material de sobra para estimular a discussão por aí também.”

 

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