Sinônimo de suspense, Alfred Hitchcock (1899-1980) se consagrou como um ícone da cultura e, apesar de morto há 40 anos, continua sendo, no mundo, o diretor mais citado por outros cineastas. Sua influência não fica restrita a certos gêneros, chegando ao drama, à ação e mesmo à comédia. Isso porque Hitchcock conhecia a necessidade de trafegar com desenvoltura por essas diferenças para obter do público a reação desejada em cada sequência milimetricamente pensada. O diretor, que afirmava que “o problema não está no clichê, mas em saber como usá-lo”, sabia como ninguém usar os clichês de cada gênero e a importância da imagem para o cinema. Abaixo, uma lista de filmes para entender a mente do gênio.
É considerado, em inúmeras listas de especialistas, o melhor filme de todos os tempos, numa disputa acirrada com “Cidadão Kane”, de Orson Welles. Segundo o diretor Martin Scorsese, “um perfeito e profundo estudo sobre a obsessão humana, num ritmo que lembra os filmes de arte europeus”. Now.
‘Psicose’
O divisor de águas entre os filmes sobre assassinos em série traz uma combinação genial de conteúdo e estilo. A cena do chuveiro está entre as dez mais influentes da história do cinema, já que Hitchcock conseguiu transformar um banho em algo tão assustador que, depois de “Psicose”, muita gente passou a trancar a porta do banheiro. Telecine, Now, Google Play e Apple TV.
‘Janela indiscreta’
O mestre do suspense sacramentou a palavra voyeur na cultura pop ao colocar um fotógrafo tomando conta dos vizinhos quando fica preso em casa por causa de um acidente. Uma influência para programas como o “Big Brother Brasil”. Looke, Google Play e Apple TV.
‘Os pássaros’
Um dos filmes mais alegóricos e abstratos de Hitchcock, que aqui bebe da fonte de “Moby Dick”, de Herman Melville, mas para abordar temas como a culpa, o castigo, o caos e a tensão sexual, entre outros. Telecine, Now, Looke, Google Play e Apple TV.
‘Intriga internacional’
O filme pode ser comparado aos blockbusters de hoje, guardadas as devidas proporções, já que o diretor investe na fórmula do homem que cai por acaso na armadilha da Guerra Fria com a elegância de sempre. É Hitchcock fazendo um comentário sobre a paranoia com o comunismo. Looke, Google Play, Apple TV, Oldflix.
‘Disque M para matar’
Esse projeto expõe a pretensão de se cometer o crime perfeito, e Hitchcock faz uso do 3D para colocar o espectador dentro da trama. Looke, Google Play, Apple TV, Oldflix.
‘O homem que sabia demais’
Aqui vemos o diretor fazendo um remake de seu filme homônimo de 1934, e a ação ganha mais destaque para abordar um dos seus temas preferidos: o homem comum pego numa conspiração internacional. Ao mesmo tempo, é inesquecível ver Doris Day cantando “O que será, será”. Now, Google Play.
‘Festim diabólico’
Um belo exercício de experimentação de linguagem e uma obra-prima em técnica, na qual Hitchcock entrega o que seria um filme sem cortes. Ele trata nas entrelinhas da vaidade e de uma relação homossexual ambígua. Telecine Google Play e Apple TV.
‘Ladrão de casaca’
É o filme mais romântico, elegante e glamoroso de Hitchcock, em que o diretor britânico demonstra o quanto um longa sobre um ladrão pode ser sofisticado. Amazon, Telecine, Google Play, Microsoft, Apple TV.
‘Rebecca, a mulher inesquecível’
Inspirado no best-seller de Daphne du Maurier, Hitchcock demonstra que um filme pode acrescentar novos valores a um livro famoso. O longa marca a estreia dele em Hollywood, quando o produtor mão de ferro David O. Selznick (de “...E o vento levou”) ficou com o Oscar de melhor filme, mas Hitchcock ficou sem o prêmio de melhor diretor. Pior para a Meca do cinema. Now, Looke, Oldflix.
‘O terceiro tiro’
O mestre do suspense faz rir com o corpo de uma pessoa para explicar o MacGuffin: dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador, que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa. É Hitchcock usando o humor negro para dar uma aula divertida de cinema. Telecine.
‘Hitchcock e Truffaut’
O brilhante documentário, lançado no Festival de Cannes de 2015, capta parte da famosa entrevista de Alfred Hitchcock a François Truffaut em 1962. É uma ilustração do lendário livro em que Truffaut conversa em detalhes sobre todos os filmes do cineasta britânico. O documentário, dirigo por Kent Jones, tem a participação dos diretores Wes Anderson, Olivier Assayas, Paul Schrader, Arnaud Desplechin, David Fincher, James Gray, Richard Linklater, Kiyoshi Kurosawa, Martin Scorsese. Now.
* Mario Abbade é crítico de cinema do GLOBO.