ADEUS
Castro Alves
(Do poema A Cachoeira de Paulo Afonso)
— Adeus — Ai criança ingrata!
Pois tu me disseste — adeus — ?
Loucura! melhor seria
Separar a terra e os céus.
— Adeus — palavra sombria!
De uma alma gelada e fria
És a derradeira flor.
— Adeus! — miséria! mentira
De um seio que não suspira,
De um coração sem amor.
Ai, Senhor! A rola agreste
Morre se o par lhe faltou.
O raio que abrasa o cedro
A parasita abrasou.
O astro namora o orvalho:
— Um é a estrela do galho,
— Outro o orvalho da amplidão.
Mas, à luz do sol nascente,
Morre a estrela — no poente!
O orvalho — morre no chão!
Nunca as neblinas do vale
Souberam dizer-se — adeus —
Se unidas partem da terra,
Perdem-se unidas nos céus.
A onda expira na plaga...
Porém vem logo outra vaga
P'ra morrer da mesma dor...
— Adeus — palavra sombria!
Não digas — adeus —, Maria!
Ou não me fales de amor!