Uma colherada no café, alguns sachês no suco, principalmente quando a fruta é cítrica: o açúcar faz parte da alimentação dos brasileiros. Segundo Pesquisa de Orçamentos Familiares, 85,4% da população adiciona o produto em alimentos e bebidas no país. Mas, para driblar as doenças que o consumo em excesso comprovadamente traz, a substituição pelos adoçantes tem sido cada vez maior -- estima-se que os adoçantes estejam presentes em 13,4% das mesas brasileiras, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos. Os maiores consumidores são as mulheres, sobretudo do Sudeste e Nordeste, da classe econômica A/B.
Do natural ao artificial, as opções adoçam com pouquíssimas calorias. O Globo procurou especialistas para detalhar as diferenças entre eles, da origem à melhor função de cada um na cozinha – e o impacto na saúde.
— Os adoçantes têm origens completamente diferentes. Eles podem vir da cana-de-açúcar e de aminoácidos, enquanto outros são produzidos quimicamente. Têm dulçor maior que o açúcar, sendo 200, 300 e ou até 500 mais potentes. Então, por exemplo, 1 grama de aspartame adoça 200 vezes mais que 1 grama de açúcar — explica Daniel Magnoni, nutrólogo do Hospital do Coração, em São Paulo.
Para quem busca perder peso, produtos adoçados com adoçantes podem ser uma alternativa, desde que associados a uma dieta hipocalórica e à atividade física.
— Em uma recente revisão sistemática, o uso de bebidas açucaradas com adoçantes como substituto para bebidas adoçadas com açúcar resultou em uma pequena melhora em fatores de risco cardiometabólicos (risco de diabetes e doenças cardíacas) – afirma a vice-presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Melanie Rodacki.
— A indústria alega que os trabalhos foram feitos em animais e não em humanos. Realmente, 1 grama de ciclamato para um rato é muito mais do que para um humano, por isso que precisaria de mais trabalho, de mais pesquisa. Mas falo para meus pacientes evitarem o ciclamato – diz o nutrólogo Magnoni.
O médico sugere cautela também com a sucralose em algumas situações. Estudos recentes indicam que o composto pode liberar substâncias tóxicas quando exposto a temperaturas maiores que 120° (deve-se evitar levar ao forno, portanto). Outro alerta importante é para o uso de aspartame por quem tem fenilcetonúria, doença congênita na qual a pessoa não consegue metabolizar a fenilalanina (o excesso exerce ação tóxica em vários órgãos).
Quanto aos impactos no organismo, a endócrino Rodacki pontua que evidências mais recentes mostram um possível impacto dos adoçantes artificiais na microbiota intestinal, além de aumentarem o apetite.
— Em trabalhos com ratos, o consumo de adoçantes artificiais aumentou o desejo de alimentos adoçados com açúcar e peso corporal. Um estudo em homens com peso normal indicou que a ingestão de bebidas adoçadas com adoçante induziu maior vontade de comer e menor sensação de plenitude, diz a médica.
Pesquisa conduzida pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, a pedido da Organização Mundial da Saúde, chegou à conclusão que adoçantes artificiais e de baixa caloria podem não ajudar na perda de peso.
— Estudos de longo prazo são necessários para avaliar os efeitos sobre o sobrepeso e a obesidade, o risco de diabetes, doenças cardiovasculares e doenças renais —, ressaltaram os pesquisadores responsáveis, em publicação na British Medical Journal.
Os melhores produtos para a saúde, de acordo com os especialistas, são os de origem natural, como stevia, xilitol e eritritol. Têm segurança estabelecida e costumam conferir dulçor semelhante ao açúcar, além de apresentar poucos efeitos colaterais e serem estáveis à temperatura do cozimento. Mas os médicos são unânimes em afirmar que o ideal mesmo é o alimento com seu próprio sabor, sem adição de açúcares, seja o natural ou o artificial.
Confira as especificações dos adoçantes
Sacarina: Tem doçura 300 a 500 vezes maior que o açúcar, sendo necessária pouquíssima quantidade, portanto. É resistente à temperatura de cozimento dos alimentos, possui um sabor residual metálico e nesse sentido, normalmente é utilizada junto com outro tipo de adoçante.
Ciclamato: Resistente à temperatura, tem doçura 30 a 40 vezes maior que o açúcar. Pode ser combinada com a sacarina, fornecendo sabor mais doce. Na década de 80, foi proibido nos Estados Unidos em decorrência de estudos em animais que associaram sua ingestão ao desenvolvimento de câncer de bexiga. É permitido no Brasil.
Acessulfame de potássio: Tem doçura 200 vezes maior que o açúcar. De todos é o que possui melhor sabor. Estável na pasteurização e esterilização.
Sucralose: Tem doçura 600 vezes maior comparado ao açúcar. Não possui sabor residual e é estável ao aquecimento. Apesar disso, estudos recentes mostram que quando submetido a temperaturas maiores que 120º podem liberar substâncias tóxicas. Apesar de vir da cana-de-açúcar, não é natural, porque sofre reações químicas.
Stevia: Tem doçura 300 vezes maior que o açúcar e pode ir ao fogo. Extraído da planta Stevia rebaudiana, planta nativa da América do Sul, comum na região Sul do Brasil. Tem sabor um pouco amargo, que muitas vezes limita o uso. Está entre os melhores para a saúde.
Eritritol: Praticamente sem caloria alguma: 0,2 por grama. Tem ingestão bem tolerada e é mais usado na indústria alimentícia (é estável no calor). Tem doçura 300 a 400 vezes maior que o açúcar. Estudos mostram que 90% do composto é eliminado pela urina, o restante é fermentado pelas bactérias intestinais. É natural, extraído da cana-de-açúcar. Tem sabor muito parecido com o açúcar.
* estagiária sob supervisão de Adriana Dias Lopes