Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense domingo, 19 de junho de 2022

ACOLHIMENTO: A IMPORTÂNCIA DO RESPEITO E ACOLHIMENTO FAMILIAR NO MÊS DO ORGULHO LGBTQIA+

Mês do Orgulho LGBTQIA+: a importância do respeito e acolhimento familiar

No Mês do Orgulho LGBTQIA+, contamos a história de pessoas que assumiram sua sexualidade, diferente do "padrão" esperado, e contaram com o amor e o respeito irrestrito dos pais no combate à homofobia

PL
Por Letícia Mouhamad* e Carolina Marcusse*
postado em 19/06/2022 08:00
 
SAIBA MAIS
 (crédito: WOJTEK RADWANSKI/AFP)
(crédito: WOJTEK RADWANSKI/AFP)

Reconhecer a própria sexualidade ou gênero ainda é um desafio em uma sociedade hostil ao que costuma fugir do padrão. E as tentativas de podar, não só demonstrações de amor como a existência de integrantes da comunidade LGBTQIA+, estão comprovadas em dados: ao menos cinco pessoas foram vítimas de homicídio no país a cada semana em 2021, segundo o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+. Muitas vezes, tal violência manifesta-se dentro de casa, ambiente de onde se espera maior proteção; daí a importância das redes de apoio que surgem ora dos grupos de amigos, ora de projetos e instituições.

  

"Ser você mesmo nunca deve ser motivo para pedir desculpas"

Crescer em uma família aberta a outras culturas e marcada por constantes mudanças de endereço — com pai americano e mãe brasileira — fez com que o estudante Azra Blum, 18 anos, despertasse desde cedo curiosidade sobre tudo, todos e si mesmo, sentindo-se confortável para, aos 12 anos, expressar sua identidade e sexualidade para os pais. Hoje, reconhece-se como homem transsexual e bissexual, constatação que, ainda nos primeiros sinais, não lhe causou espanto.

Recorda-se, por exemplo, de, na infância, ser menos "afeminado" que outras meninas e ter interesse por brincadeiras comumente associadas ao masculino. "Claro que essas características não podem determinar o gênero de alguém, mas, para mim, foi um tipo de 'sinal'", revela. Inicialmente, reconheceu-se como bi, depois como não binário e, em seguida, como homem trans. Não houve sentimento de vergonha ou culpa. "Eu sou isso mesmo, nada de mais."

 

Azra Blum com os pais, Adiane Martins e Avram Blum: apoio incondicional da família
Azra Blum com os pais, Adiane Martins e Avram Blum: apoio incondicional da família(foto: Arquivo pessoal)

 

Parte dessa segurança se deu pela reação positiva da família, em especial do pai, que a todo momento o acolheu. Com a mãe, o processo foi intrincado e permeado por resistência que, gradativamente, deu lugar a colo e compreensão, tornando-a uma das suas maiores apoiadoras e motivo de orgulho, em vista dessa transformação, para o filho.

Azra considera-se privilegiado por não ter sofrido tão intensamente situações de intolerância na escola — ambiente muitas vezes desafiador para crianças e adolescentes LGBTQIA +. Em alguns momentos, presenciou o que chama de ignorância por parte dos colegas, que teciam comentários, o sexualizando e objetificando. Perceber que esse grupo já não o aceitava motivou o jovem a encontrar outros amigos que realmente lhe apoiaram e com os quais se identificava.

Já na faculdade, o estudante cita uma ocasião em que se sentiu desconfortável com a forma como foi tratado pela professora, que não sabia como se referir a ele e o questionou sobre os pronomes com os quais se apresentava. "De certa forma, eu me senti 'tirado do armário' sem meu consentimento, já que fui o único da turma indagado sobre isso. De toda maneira, quase sempre as intenções são das melhores, mesmo que revelem pouco contato com pessoas transsexuais", explica.

Amor que fortalece

Informar-se sobre o processo de transição de gênero foi uma iniciativa importante para os pais de Azra, a consultora educacional Adiane Martins e o professor universitário Avram Blum. Além disso, investir tempo e energia em terapia, tanto individual quanto em família, foi uma atitude que ajudou a amadurecer as mudanças e juntar forças para compreender o filho.

Para Avram, os indícios sobre a identidade e a sexualidade do jovem foram percebidos desde cedo. "As crianças reconhecem que na sociedade existem certas expectativas para meninos e para meninas. Têm aquelas que 'aceitam' tais normas sociais, como meninas que gostam muito de usar rosa e vestir vestidos, enquanto outras não expressam tão fortemente esses traços associados à feminilidade, como foi o caso de Azra", descreve.

 

Azra Blum, estudante, e sua mãe, Adiane Martins.
Azra Blum, estudante, e sua mãe, Adiane Martins.(foto: Arquivo pessoal)

 

Quando se mudaram para Brasília, o filho, então com 10 anos, fez uma forte amizade com uma menina, com a qual queria estar sempre junto. Ali, o pai percebeu que se tratava de um sentimento maior e, aos 12 anos, os adolescentes se assumiram para as mães. Ao saber, o professor, de prontidão, demonstrou apoio e compreensão: o importante era que o filho estivesse feliz. "Tudo bem. É muito bom ter alguém que gostamos em nossa vida", recorda-se de declarar.

O próximo grande passo ocorreu ao se mudarem para os Estados Unidos. Quando os pais tiveram que assinar um documento com o filho, surgiu a questão do nome: Azra não se identificava mais como Ana Sofia e o pedido para ser chamado de outra forma foi acatado pela família. Após passar por um período em que considerava ser não binário, o jovem reconheceu-se como menino, aos 17, comprovando que esse processo pode ser longo e gradativo, o que não significa que seja árduo, já que houve tempo suficiente para compreender cada nova informação.

Com acompanhamento psicológico, Adiane passou a conhecer mais sobre si e sobre o papel essencial que exerce na vida do filho. Ela lembra, ainda, que esses primeiros momentos podem ser desafiantes para o adolescente, mas, se ele souber que em casa há acolhimento, qualquer tipo de sofrimento é reduzido em altíssima proporção. "Eles precisam muito do nosso amor. Nós somos as pessoas mais próximas deles e é tão maravilhoso saberem que têm nosso apoio. Dessa forma, consegui enxergar o orgulho que tenho de ser mãe do Azra", conta.

Para os pais que estão passando por situações semelhantes, Avram recomenda: "Informe-se, conheça e converse". Procurar um espaço neutro, como o da terapia, também pode ser positivo. Além disso, dialogar com amigos ou amigas que são parte da comunidade LGBTQIA + ajuda a esclarecer algumas questões e enxergar outras perspectivas. "Em nenhum momento, eu me senti decepcionado ou achei que ele não estava alcançando as minhas expectativas. Quero que ele esteja bem, em primeiro lugar", finaliza.


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros