Abel quebra silêncio no Palmeiras, defende João Martins e avisa: ‘Não sou o técnico que só ganha’
Ao longo da entrevista depois de ficar semanas sem falar, treinador comenta do amor da torcida, aborda a má fase do time e questiona as acusações de xenofobia feitas pela CBF contra seu auxiliar
Por Estadão Conteúdo
16/07/2023 | 22h31Atualização: 17/07/2023 | 10h18
A ‘lei do silêncio’ instituída pelo Palmeiras depois da polêmica coletiva do auxiliar João Martins, há duas semanas, terminou neste domingo. No Beira-Rio, onde o time paulista empatou sem gols com o Internacional, pela 15ª rodada do Brasileirão, o técnico Abel Ferreira voltou a se sentar na cadeira de uma sala de imprensa e respondeu com calma às perguntas feitas pelos jornalistas. Ao longo da entrevista, disse sentir-se amado pelos palmeirenses, comentou sobre a má fase do time e questionou as acusações de xenofobia feitas pela CBF contra Martins.
Eliminado pelo rival São Paulo nas quartas de final da Copa do Brasil, em jogo disputado na quinta-feira, quando o treinador não se pronunciou, o Palmeiras começou a sentir a pressão de parte da torcida, que fez protestos no sábado. Neste domingo, o time chegou ao quinto jogo sem vitória, e Abel defende que uma sequência como esta é mais natural do que a fase mágica vivida pelo clube nos últimos anos sob seu comando.
O jogador Jhonatan, da SE Palmeiras, disputa bola com o jogador do SC Internacional, durante partida válida pela décima quinta rodada, do Campeonato Brasileiro, Série A, no Beira-Rio. Foto: Cesar Greco/Palmeiras
“Não conheço campeões que só ganham, os campeões são os que levam as pancadas e continuam. Se querem um treinador que só ganha títulos, descubram, porque não sei onde está. O treinador que só ganha não sou eu. Eu também perco. Já tinha avisado no último ano. Não sei até quando ia durar, iríamos perder. As pessoas que têm sede de zoar o Palmeiras, o treinador, tem a oportunidade agora. E nós temos que ter mentalidade de campeão, aguentar, nos dedicarmos ao trabalho”, disse.
Quanto questionado sobre a insatisfação dos torcedores em razão do momento ruim, Abel disse ter testemunhado mais manifestações de apoio do que de críticas. “Eu vou te falar dos torcedores que vêm falar diretamente comigo. Até hoje, ganhando ou perdendo, as duas palavras que mais ouço, nem minha mulher e minhas filhas dizem tanto quanto os torcedores: amo você. ‘Os torcedores do Palmeiras dizem que me amam mais que você e minhas filhas’, digo, à minha mulher”, afirmou. “Os torcedores verdadeiros que vêm falar comigo. Eu não sei quem está atrás de um blog, se é um verdadeiro torcedor do Palmeiras, ou alguém em busca de tumulto e confusão”, completou.
DEFESA DE JOÃO MARTINS
Aparentemente tranquilo, Abel só endureceu um pouco mais o tom ao comentar a situação de João Martins. Após o empate por 2 a 2 com o Athletico-PR, no dia 2 de julho, o auxiliar fez insinuações e disse que “o sistema” estaria prejudicando o Palmeiras, por isso o time não teria condições de se tornar um clube dominante como ocorre na Europa. Em resposta dura, a CBF acusou Martins de xenofobia e levou o caso ao STJD.
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“Não adianta falar mais com os árbitros, vou deixá-los em paz. Eu disse ao advogado: ‘fique tranquilo, o Palmeiras pode mandá-lo embora que não vai ter mais problema nenhum, nem comigo nem com minha comissão’. Infelizmente, querem caçar o João. Vou ficar atento ao que vão fazer com o João e o que vão fazer com os outros que falaram a mesma coisa. Vou ficar atento a isso. Vou ter de perceber o que quer dizer xenofobia. Eu nunca estive em um país em que ouvi tanto esse termo. Nem sabia o que era isso. Xenofobia, racismo, preconceito… nunca ouvi tanto como aqui”, disse.
Após o caso, o Palmeiras defendeu Martins e proibiu jogadores e comissão técnica de darem entrevistas, decisão que foi mantida nos últimos três jogos - dois com o São Paulo pela Copa do Brasil e um com o Flamengo no Brasileirão. Depois da eliminação para os são-paulinos, quinta-feira, o diretor de futebol Anderson Barros foi o único que deu entrevista.
CHANCE DE ALCANÇAR O BOTAFOGO E ELOGIO A COLEGAS
O português pouco comentou o silêncio adotado nas duas últimas semanas, mas aproveitou para falar o que gostaria de ter dito caso tivesse concedido entrevista na quinta-feira, após o clássico com o São Paulo. “Depois que perdemos para o São Paulo, se fosse na conferência de imprensa, e só não fui porque o Barros não deixou, ia ser muito simples. Ia dar parabéns. Para mim, o Dorival é um dos três melhores treinadores brasileiros. Dorival, Renato Gaúcho e o interino da seleção e do Fluminense (Fernando Diniz). A partir daí, não tenho muito a dizer”.
Abel também destacou sobre a chance de alcançar o Botafogo na disputa pelo título do Brasileirão. Em sexto lugar, com 25 pontos, o time alviverde está a 14 da equipe carioca, isolada na liderança com 39. “A única coisa que tenho que fazer é ajudar meus jogadores. O Botafogo merece estar 14 pontos à frente”, resumiu.
O treinador ainda disse que a má fase não o assusta e que está preparado para ser demitido, se tal momento chegar. Até brincou, comparando-se a Pep Guardiola, do Manchester City. “Estou preparado. Depois de vir aqui, onde a média é três meses, e ficar três anos, estou preparado para treinar os melhores do mundo. Como fazem os melhores do mundo. O único que ainda não foi despedido foi o Guardiola… ah, e eu, esqueci. Quando chegar a minha vez de ser despedido, sei muito bem como isso funciona”, disse.