Camões fez várias proezas
Muitas não foram contadas
Porém é incalculável
As que já foram versadas
Leia a volta de Camões
E dê boas gargalhadas
O leitor deve lembrar-se
Da última que Camões fez
Que correu deixando o reino
Depois o rei Milanês
Mandou chamá-lo de volta
Para o reinado outra vez
Camões voltou mas ficou
Bastante desconfiado
Milanês com falsidade
O recebeu com agrado
Dizendo: - Sentimos falta
De você neste reinado
Eu sei que fui o culpado
De tudo o que aconteceu
Vamos viver o presente
Que o passado já morreu
Camões pensava consigo
Vou lhe mostrar quem sou eu
O rei sempre procurava
Um jeito pra dar-lhe fim
Um dia Camões estava
Passeando no jardim
O rei lhe vendo o chamou
E foi lhe dizendo assim: -
Camões você é esperto
Então irá decifrar
Perguntas que vou fazer
Pra você adivinhar
Se errar uma somente
Eu o mando degolar
Camões disse: – Senhor rei
As suas ordens estou
Pergunte com rapidez
Que alguém ali me chamou
O rei disse: – então escute
E pra ele assim falou
Camões você me responda
E aqui perante o povo
Este problema que eu trago
É antigo e não é novo
Não se quebra com marreta
Mais se quebra com um ovo?
Camões disse: – Senhor rei
Esta pra mim é comum
Durante o ano têm muitos
Mas eu nunca guardei um
Digo com toda certeza
Que é um dia de jejum
O rei foi para o palácio
Com raiva e enfurecido
Dizendo consigo mesmo
Tudo que eu faço é perdido
Mas vou encontrar um jeito
Pra matar este bandido
Um dia Camões estava
Bastantemente feliz
O rei perguntou-lhe: o que
Mais cheira neste país?
Camões disse:- Não é rosa,
Nem cravo é o meu nariz.
O rei disse pra Camões
Nós dois estamos em guerra
Você parece que é
O mais esperto da terra
Então me diga por que
É que o boi sobe a serra?
Camões disse senhor rei
Vou dizer sem cambalacho
O boi possui muita força
Mas sabe o que é, que eu acho.
Que ele só sobe porque
Não pode passar por baixo
O rei disse: – Então responda
Cuidado pra não errar
Qual é o trabalhador
Que vive sem reclamar
Mas um tem defeito que
Só trabalha se apanhar?
Camões coçou a cabeça
Disse o rei nesta eu lhe pego
Camões falou tenha calma
Que ainda não mim entrego
Quem trabalha quando apanha
Na minha casa é o prego
O rei disse está exato
Revelador de segredos
Um dia eu vi lá na mata
Presa entre dois rochedos
Uma mão misteriosa
Mas ela não tinha dedos
Quero que você me diga
Na sua decifração
Qual foi a mão que eu vi?
Se errar vai para a prisão
Camões sorriu, e lhe disse:-
Foi uma mão de pilão
O rei respondeu, assim...
Já que você é sagaz
Quero que responda esta
Mostrando que é capaz
Só cresce antes de nascer
Nascendo não cresce mais?
Camões disse: – Senhor Rei
Com essa eu não mim comovo
Que ela é fácil de mais
Para mim e para o povo
É um bichinho redondo
Que nós chamamos de ovo
O rei disse: - Um deles tem
Cabeça e não tem miolo
Um tem miolo e não tem
Cabeça e parece um bolo
Me diga quem são os dois?
Veja se sai desse rolo
Camões disse: – Eu vou dizer
Sem fazer meditação.
É algo que precisamos
Um se come, o outro não.
Que o primeiro é um prego
E o segundo é um pão
O rei disse:– Então me diga
Na sua sabedoria
A onde é que está o boi
Às doze horas do dia?
Se errar você irá
Morar numa cova fria
Camões disse:– Eu tinha um boi
Um dia montei-me nele
Desci até o riacho
Para ir dá água a ele
E vi ele às doze horas
Em cima da sombra dele
Disse o rei esta correto
Você é muito perito
Veja se responde esta
Com estilo e gabarito
Diga onde é que passa o boi
Porém não passa o mosquito?
Camões disse é no buraco
Da teia de uma aranha
Onde o mosquito se engancha
Ela vem e lhe abocanha
Mas o boi passa rompendo-a
E ela não lhe apanha.
Rei Milanês afastou-se
Com uma raiva danada
E Camões também seguiu
Direto a sua morada
Mais esperando do rei
Logo em breve uma cilada
Com oito dias Camões
Por Milanês foi chamado
Chegando ao palácio o rei
Já tinha se acalmado
Pra fazer novas perguntas
Tinha tudo planejado
Foi perguntando a Camões
Diga se for competente
O que é que não tem boca
Mas come porque tem dentes?
Camões respondeu: serrote
Serrando rapidamente
O rei respondeu: – Camões
Você é um cabra da peste
Mais só escapará desta
Se agora passar no teste
Me diga qual é o pano
Que nenhum vivente veste?
Camões disse: – Eu tenho fé
No autor da criação
Pois foi ele quem me deu
O dom de adivinhão
E o pano que ninguém veste
É o pano de facão
O rei disse: – Muito bem
Nesta eu não lhe recrimino
Reconheço que você
É um sujeito ladino
Então me diga por que
Onça não pega menino?
Camões lhe disse: – O senhor
Deve estar com brincadeira
Onça não pega menino
Porque não é a parteira
O rei disse: – Eu faço outra
Pela seguinte maneira
Me diga o que é que anda
E vai pra todo lugar
Todos vemos mas ninguém
Consegue lhe segurar
E se ela entrar num riacho
Sai dele sem se molhar
Camões lhe disse:– É a sombra
De gente, ou de animal.
Com essa resposta o rei
Fez uma pausa geral
Pensou e disse responda
Se não irá se dá mal
Tem mais ou menos um palmo
Não é carne nem é osso
Quando envermelha a cabeça
Corre um caldo do pescoço
Com essa pergunta o povo
Fez ali grande alvoroço
Depois foram se acalmando
Camões disse: com certeza
Moça quando quer casar
Precisa de uma e deseja.
É uma vela que ela
Vai acender na igreja.
O Rei disse:– me responda
Esta que não é comum
O que é, que nesta terra.
Cada padre possui um
Até o papa tem dois
E Jesus não tem nenhum?
Camões disse: Eu lhe respondo
Sem fazer nenhum desdém
No nome de papa e padre
Observem muito bem
Que possui a letra p.
Mas no de Jesus não tem.
O Rei disse pra Camões
Essa você respondeu.
Quero quer você mim diga
Quem foi que nunca nasceu
Mas no dia que morreu
A própria mãe o comeu?
Camões disse:– Senhor Rei
Minha língua não emperra
Foi Adão que foi criado
Com o pó da própria terra
Morreu na certa ela come
Quem vive certo e quem erra.
Camões me diga o que é
Quem faz pra si não deseja
Quem nele está, não o vê!
Quem vê diz: – Deus me proteja.
Todos querem fugir dele
Por mais bonito que seja?
Camões disse: – Essa eu respondo
Com certeza é um caixão
Com um morto dentro dele
Sem saber qual a razão
Quem o vê não quer estar
Naquela situação
O Rei disse: – Muito bem
Outra lhe perguntarei
Foi na água que eu nasci.
E na água mim criei
Se me jogarem na água
Eu na água morrerei?
Camões disse: esta eu respondo
Até mesmo sem pensar.
É o sal que na comida
Dá o melhor paladar
É retirado de dentro
Das profundezas do mar.
O Rei disse pra Camões
Comprovaste a tua fama
Responda-me esta pergunta
Ligeiro sem fazer drama
O que é que a pessoa faz
Ao levantar-se da cama.
Camões disse: – Senhor Rei
Eu posso lhe afirmar
Que esta pergunta, eu já sei.
Porque pude observar
Pode prestar atenção
Que o primeiro é se sentar
Camões eu fui visitar
O meu Conselheiro Braz
E vi alguém trabalhando
Com a cabeça pra trás
Diga-me agora quem era
Se não achar que é de mais
Camões disse: – era a agulha
Que estava costurando
Com a cabeça para trás
Alguém num pano furando
Eu digo e não tenho medo
Pois sei o que estou falando
Disse o rei para Camões
Já vi que és competente
Responda-me esta pergunta
Procure na sua mente
Tem barba mas não é homem
Tem dente mais não é gente?
Camões falou: – eu lhe digo
Ligeiro e não me atrapalho
Que uma perguntinha dessa
Responderei e não falho
Na minha terra e na sua
É a cabeça de alho
Camões você me responda
Um homem entra na luta
Levando uma companheira
Porem ela não escuta
Mas o seu ouvido é bom
Sendo ruim não labuta
Que ouvido é esse dela
Que não escuta ninguém
Apesar de estar bom
E quem é ela também?
Se você não responder
Não verá o ano que vem.
Camões disse senhor Rei
Casamento é uma sina
E por companheira surda
Só quero uma carabina
Mas sendo mulher prefiro
A sua filha Cristina
O Rei disse: – pra Camões
Exijo que me respeite
Não fale na minha filha
Tenha cuidado e se ajeite
E me responda porque
Vaca parida dá leite?
Camões disse:– Senhor Rei
Com gosto vou responder
Vaca parida dá leite
Porque não sabe vender
Mas de me tornar seu genro
Talvez possa acontecer
Eu digo assim porque sei
Que a princesa a mim adora
O Rei teve tanta raiva
Que quis pegá-lo na hora
Porem Camões mais esperto
Dizendo assim foi embora
O rei no mesmo momento
Chamou Cristina atenção
E perguntou minha filha
Responda-me sim ou não
Se você ama Camões
De todo o seu coração
Cristina disse: – Papai
Se foi Camões a falar
Agora eu tenho certeza
Que comigo quer casar
Eu pensei que ele estivesse
Somente a me enganar
O Rei disse minha filha
Eu estou admirado
Vamos fazer uma festa
Comemorar seu noivado
Porém pensava consigo
Eu mato aquele danado
O Rei tinha um jardineiro
Que se chamava Crispim
Sujeito muito perverso
Da espécie de Caim
Desses que odeia o bom
E adora o que é ruim
O Rei foi à casa dele
Chamou, ele respondeu
Porém quando abriu a porta
Vendo o rei estremeceu
Depois perguntou com medo
Que quer do criado seu?
O rei disse: – Vai haver
Uma festa de noivado
De Camões com minha filha
O dia já está marcado
E eu tenho para você
Um trabalho complicado
Pegue este anel de brilhante
Com cuidado e atenção
Chegue perto de Camões
Na hora da agitação
E solte no bolso dele
Que ele passa por ladrão
Ali no meio da festa
Eu digo que fui roubado
Depois de examinar todos
O brilhante é encontrado
Ele é pego com o roubo
E será morto enforcado
Tudo ficou acertado
Até o dia da festa
Camões sem saber de nada
Será que escapa desta?
Agora é que vamos ver
Se adivinhação presta
Todos foram convidados
Até que chegou o dia
O noivado anunciado
Foi uma grande alegria
E Camões bem satisfeito
Beijava a noiva e sorria
Porém o tal jardineiro
Por perto dele passou
E o anel do rei de brilhante
No seu bolso colocou
O rei viu e no momento
Gritou alguém me roubou
A festa parou e foi
Um por um examinado
Chegou a vez de Camões
Foi o anel encontrado
O rei ordenou que ele
Depressa fosse amarrado
Camões ia ser levado
Direto pra guilhotina
Mais antes que o levassem
Disse a princesa Cristina
Deixai o réu defendesse
Segundo a lei determina
Não se condena ninguém
Sem ouvir a sua defesa
Se é culpado ou inocente
Precisamos ter certeza
Todos ali concordaram
Com a proposta da princesa
O Rei disse: – Está correto
Minha filha tem razão
Hoje Camões morrerá
Se não der a explicação
Como o meu anel sumiu
Do dedo da minha mão
Fez-se silêncio geral
Entre todos no salão
Esperando que Camões
Perante o Rei da nação
Desse provas que não era
Como acusado, um ladrão.
Camões disse: – Ontem à noite
Eu tive um sonho ruim
Que alguém com um anel
Aproximou-se de mim
E essa pessoa era
O jardineiro Crispim
Nesta hora o jardineiro
Começou a se tremer
E disse: –Tudo o que eu fiz
Foi com medo de morrer
Sendo uma ordem do rei
Tive que lhe obedecer
O rei combinou comigo
Pra na festa eu colocar
O anel dele em seu bolso
E depois lhe acusar
E assim talvez conseguisse
Um jeito de lhe matar
E quando estava dançando
Com a princesa eu passei
Por perto e o anel do rei
No bolso e coloquei
Confesso que foi só esse
O crime que pratiquei
Camões respondeu: – Por mim
Você estás perdoado
A culpa é do nosso Rei
Que fez tudo planejado
Obedecestes porque
A ele és subordinado
Ali todos deram vivas
Pra Camões adivinhão
O Rei na vista de todos
A ele pediu perdão
Dizendo: – És o meu genro
Futuro Rei da Nação
Liberto Camões ficou
Alegre junto a Cristina
Logo após o casamento
Viajaram pra Palestina
E foram viver felizes
Segundo a lei nos ensina