Bernardo, como fazem todos os novos ricos, construiu uma bela casa na praia da Barra de São Miguel. Tem uma verdadeira paixão e vaidade daquela bela casa. Vive cheia de amigos, a maioria de seu interesse comercial e político. Usa a mansão praieira como forma de relações públicas com almoços, boas bebidas. Ficou rico como laranja de autoridades poderosas que deviam estar na cadeia por usurpar dinheiro público,
Na quinta-feira antes do carnaval, Bernardo foi à casa de praia da Barra de São Miguel a fim de prepará-la para receber amigos durante a folia. Sua doce mulher, Josina sempre viveu em harmonia, mesmo com algumas desconfianças da integridade conjugal do marido. Quando solteiro, Bernardo foi um incorrigível raparigueiro, por conta disso havia resquícios de sua fama. Na verdade, nunca perdeu a mania, o vício de mulher. Durante os 10 anos de casados ele pulou a cerca várias vezes, muito discretamente.
Da varanda da casa Bernardo contemplava a bela vista da praia quando apareceu Lucinha, filha da faxineira para ajudá-lo na arrumação. Ele alegrou-se ao vê-la, “secava” a jovem desde que ela retornou de São Paulo, onde foi morar há três anos com menino no bucho em busca do pai. Em Sampa o marido desapareceu. Ela tentou sobreviver, foi difícil, teve de retornar à casa da mãe. Lucinha com seus 24 aninhos tem consciência de sua beleza e do corpo bem torneado; usa uma provocativa minissaia expondo o belo espécime feminino. Em São Paulo fez alguns programas, aprendeu coisas inacreditáveis.
Começaram a arrumação da casa. O patrão ficou perturbado ao olhar aquela moça varrendo o chão, limpando vidraça. Os dois sozinhos naquela casa geraram um clima propício à sensualidade. Em certo momento ele não se conteve, achegou-se à jovem, alisou seu cabelo, seus braços, ela sorria em cumplicidade, “Que é isso? Doutor Bernardo!” Deitaram-se no tapete da sala, abraçaram-se, beijaram-se, amaram-se até a apoteose gritante. Estavam estirados no chão abraçados quando a porta se abriu. Josina chocou-se com a cena. Foi um flagrante constrangedor, ela gritou com ódio: “Você me paga. Seu filho de uma puta!” Bateu a porta, retornou à Maceió, dirigindo nervosa, aos prantos.
Bernardo não teve coragem de voltar para casa. Procurou amigos, parentes, contou a história, pediu para que fizessem a ponte da paz, ele estava arrependido, nunca mais aconteceria, e outras promessas vãs que todos os pecadores cometem. Josina irredutível mandou recado que ele não tivesse a ousadia em procurá-la.
Sábado de carnaval, tristonho Bernardo acordou na casa na Barra, pensava muito, avaliando a bobeira que havia feito. À noite foi dar uma volta no carnaval de rua no centro da pequena cidade balneário. Teve um susto quando viu Josina com um short curto, barriguinha de fora, charmosa, dançando na rua, pulando com amigos. O ciúme subiu-lhe à cabeça, os olhos dos dois se cruzaram. Até que certa hora o álcool deu coragem, Bernardo aproximou-se Josina. Ela o empurrou, disse que chamava a polícia. Levaram-no bêbado para casa. No domingo estava com depressão. À noite foi pior. Ao ver Josina abraçando e beijando a boca de um jovem surfista, Bernardo partiu para cima da mulher, puxou-a pelo braço tentando arrastá-la para casa, nesse momento levou um soco do acompanhante. Levaram novamente o ridículo bêbado para dormir. Durante o resto do carnaval ele procurou, mas não conseguiu encontrar Josina. Ela desapareceu de casa com roupas e pertences.
Bernardo soube notícia da mulher dias depois, quando ela já estava em Paris. Na quarta-feira de cinzas assim que o banco abriu, Josina transferiu R$ 420.000,00 da conta conjunta para sua conta particular, viajou para o Recife, de lá tomou um avião para Europa. Não sabe quando volta, o jovem surfista está fazendo companhia em seus passeios parisiense e em sua cama no hotel à beira do Sena. Vingança de mulher nem o cão dá conta!