Oh, seu moço da cidade
Quem vive de fino trato
Vem ver a felicidade
Que se tem aqui no mato,
Na alvorada do dia
Respirar a brisa fria
Pura, sem poluição,
Comer com a mão, na panela,
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem ouvir a melodia
De um vaqueiro caprichoso,
Cheio de melancolia
Soar seu canto saudoso,
Com esmero e sutileza
A bela voz com clareza
Entoando uma canção,
Cativa a jovem donzela.
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem andar pela campina
Beber água lá da fonte
Pura, limpa e cristalina
Que nasce naquele monte
Bem pertinho ali em frente.
O fluir dessa vertente
Faz bem pra teu coração
E cura qualquer mazela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem cá escovar teu dente
Com raspa de juazeiro
Depois sentar no batente
Sob a luz de um candeeiro
Prosear, contar piada,
Com a viola afinada
Solfejar uma canção
Da maneira mais singela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem ver a Lua de prata
Todo o campo prateando
Ouvir o vento na mata
Lá bem distante zoando
Vem ver uma vaquejada
Fazer uma “farinhada”
Cavalgar num alazão
Montar no pelo sem sela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem ver a simplicidade
Do meu povo aqui da roça
Sem luxo e nem vaidade
Morando numa palhoça
Bem distante da cidade
Sem saber da novidade
De rádio ou televisão
Sem se lembrar de novela.
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem ver como o galo canta
No romper da madrugada
Vem ver se tu não te encanta
Com o cantar da passarada
Vem ver nossa flor campestre
Com a beleza silvestre
Cobrir toda a região
Na mais perfeita aquarela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem ver como é belo o porte
Do caboclo sertanejo
Comendo alimento forte
Coalhada, cuscuz e queijo
Carne de bode e buchada
Ovos, leite, carne assada,
Mel de abelha, requeijão
E galinha a cabidela.
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem ver a cabocla linda
Que tem a cor da romã
Banhar-se na fonte ainda
Todo dia de manhã.
Sua pele é bronzeada
Sem ir à praia, nem nada
Atingiu a perfeição!
Contemple a beleza dela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem escutar do concriz
Sua cantiga fagueira
O canário bem feliz
Pousar numa catingueira.
Saborear um imbu
Comer o mel de uruçu
Goiaba, caju, melão,
Cajarana ou seriguela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem comer um cuscuz quente
Com leite puro, de vaca,
Vem ver a guiné carente
Lamentando que está fraca,
Jogar milho no terreiro
Ao abrir o galinheiro
Assistir a confusão
Da galinhada em procela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão.
Vem ver o tatu cavando
Um buraco pra morar
Ouvir o nambu cantando
Ou a ovelha berrar
Ver a cabra com o cabrito
E bem longe ouvir o grito
Estridente do cancão,
Ouvir latindo a cadela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão.
Vem andar numa vereda
Passar por um passadiço
Conhecer algodão-seda
Retirar mel do cortiço
Passear no campo vasto
Olhar o gado no pasto,
Colhendo a própria ração
Se debruçar na janela
Pra ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão.
Tomar banho no riacho
Logo ao nascer do sol
Tirar pitomba do cacho
Pescar com vara e anzol
Caçar, com uma “Soca-soca”
Comer beiju, tapioca,
Tomar café de pilão
Lavar os pés na gamela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!
Vem ver a perdiz piando
No meio da capoeira,
Escutar de vez em quando
O rangido da porteira,
Sai dessa tua rotina
Vem te molhar na neblina
Sem temer constipação
E nem da gripe a sequela,
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão.
Você seu moço e doutor
Mas não conhece a beleza,
Nesse seu computador
Sentado aí nessa mesa,
Vai e volta, sobe e desce,
Quer se livrar desse estresse?
Siga a minha sugestão,
Sai da frente dessa tela
Vem ver como a vida é bela
Vivida no meu sertão!