Manhã de domingo. Meu amigo acordou às 6 pensando nas coisas frágeis que resistem e nas duras superfícies que explodem, como ele próprio filosofa. Reconheceu uma saudade não sabe de quê, silenciosa, brutal e burlesca. Sentiu-se incapaz de uma única palavra. Um espetáculo de angústia misturado com medo. – Que estranho esse nó na garganta, murmurou. Apertou o pescoço, o nó desceu para o peito. Achou que ia morrer. E pelado – meu amigo mora só – disse de si para si: – Não posso morrer assim, pelado e sozinho. Precisava de ajuda, ligar para alguém. Mas, para quem? Dizer o quê? Bateu a ideia. E, sem medir consequências, foi fazer um café. Até hoje está por aqui contando sua aventura. Ruim mesmo foi comigo. Acho que sugestionado pela história do amigo, acordei às 3 e meia da manhã, sintomas iguais aos dele, nó enganchado na garganta escapulindo para o ao redor do peito, com a diferença que eu vestia cueca samba-canção (menos mal: não morreria nu). Estava em viagem a serviço, longe de casa, dentro de um apartamento alugado, e ainda que quisesse providenciar um café faltavam o pó, a chaleira e, pior, o jeito: nunca soube fazer café. Só passou a agonia quando a padaria da esquina abriu e eu tomei um pingado, quente e com pouco açúcar. Vôte! Razão mesmo tem uma amiga que diz: a vida começa depois do café. Não existe bom dia sem um café. Vou comprar uma daquelas maquinetas modernas que fazem café de cápsula para nunca mais passar por esse aperreio. Agora, dormir nu, Deus me defenda! (Dedico esta croniqueta a Lau Siqueira e Lúcia Nunes).
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