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O casal de namorados Eliete Maria Moura, 68, e Paulo Divino da Cruz, 70, não perdem um dia de forró
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Um teclado ligado a uma caixa de som, um cantor ditando o ritmo aos passos e, à frente, um grupo colocando em prática o famoso dois pra cá, dois pra lá. Parece cenário de festa, mas se trata de uma Unidade Básica de Saúde, em Planaltina. É assim, por meio do que chamam de forroterapia, que pessoas da comunidade, funcionários e pacientes do posto médico espantam a tristeza e garantem o bem-estar de quem frequenta o lugar.
A atividade ocorre todas às sextas-feiras, das 16h às 18h, na unidade que funciona no Parque Ecológico Sucupira. A música fica por conta de um tecladista voluntário e, se ele faltar, um pendrive se encarrega da trilha sonora. A atividade reúne cerca de 40 pessoas. Francisco de Assis, 88 anos, é um dos forrozeiros da turma. Ele conta que a idade não permite que ele trabalhe, mas ainda consegue dançar. “Eu venho sempre que posso. Por mim, dançava todo dia. Eu amo forró. É muito bom”, comenta.
O grupo é formado, em sua maioria, por pessoas acima de 60 anos. Segundo a enfermeira Maria das Graças Araújo, coordenadora do projeto, os idosos são o motivo da iniciativa. “A gente notou, no nosso trabalho do dia a dia, que há idosos solitários, que ficam em casa e têm dificuldade para fazer atividade física. Uma ação em grupo é ótima para eles”, destaca.
De acordo com a psicóloga Lia Clerot, atividades assim são fundamentais na vida das pessoas de terceira idade. Ela explica que o contato de muitos deles se limita aos familiares, enquanto outros vivem praticamente sozinhos. “Eles precisam de alguém que entenda suas dores, angústias e aflições. Eles necessitam de alguém de fora com quem possam desabafar. Os amigos vão se perdendo pela vida e um encontro com pessoas da mesma faixa etária pode trazer justamente essa companhia que faltava”, conta.
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A festa conta com tecladista voluntário e muita empolgação dos participantes
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Alegria contagiante
Foi no forró, ritmo de dança celebrado hoje, Dia de São João, que a vendedora Railde Rosa da Cruz, 56, encontrou uma forma de espantar a tristeza. Desde o início da atividade, em fevereiro, ela não perde um dia de festa. “Toda sexta, quando dá 16h, eu corro para cá. Eu tenho problema de depressão e aqui eu esqueço de tudo, me sinto feliz”, revela. Segundo ela, o ambiente também é ótimo para conhecer gente nova e fazer amizades. “Se o pessoal soubesse como é bom, todo mundo vinha”, ressalta Railde.
A dança é uma atividade lúdica que entretém e ajuda na liberação de hormônios que dão a sensação de prazer, como endorfina, dopamina e serotonina. “Temos pessoas juntas, em um momento de alegria, de descontração, tocando umas as outras”, detalha Lia. Além dos hormônios, a dança influencia a autoestima e a autovalorização.
Corpo e mente
A dança não dá espaço para a tristeza e para o mau humor. Alguns começam tímidos, mas é questão de tempo para se entregarem ao forró. A enfermeira Maria da Graças destaca que a atividade proporciona a socialização, como também tem contribuído para a saúde física dos participantes do projeto. A dança tornou-se parte da rotina de pacientes com pressão alta e diabetes, por exemplo, que encontraram no forró uma forma de manter o corpo em movimento.
A enfermeira lamenta críticas de pessoas reclamando da iniciativa devido aos problemas na saúde pública. Porém, ela não se deixa abalar pelos comentários negativos. “As pessoas não entendem que saúde não é só a ausência de doença. É o bem-estar físico e social também. A gente precisa de boas relações”, diz Maria das Graças. Para a psicóloga Lia, a saúde precisa ser pensada em uma perspectiva mais ampla, não apenas focada no combate, tratamento e controle de doenças. Portanto, atividades como a forroterapia contribuem para a qualidade de vida.
O casal de namorados Eliete Maria Moura, 68 anos, e Paulo Divino da Cruz, 70, são um exemplo de que a dança ajuda a manter o corpo saudável. Os dois não se desapegam e emendam uma música atrás da outra. “Eu gosto de dançar, faz bem para a idade. Quem está doente levanta e quem não está fica melhor ainda”, comemora Eliete.
"A gente notou, no nosso trabalho do dia a dia, que há idosos solitários, que ficam em casa e têm dificuldade para fazer atividade física. Uma ação em grupo é ótima para eles”
Maria das Graças Araújo,
coordenadora do projeto