Aristóteles é um homem digno, esteio de nossa sociedade, advogado emérito, conhecedor profundo das leis. Desde os tempos do Colégio Diocesano (Marista), foi um aluno exemplar ligado aos princípios morais da civilização cristã. Um apologista aos bons costumes e à moral da educação ocidental. Jovem politicamente correto. Membro de uma tradicional família das Alagoas, ele nunca teve problemas financeiros, conhece o mundo e hoje é um sessentão conservado dedicado. Faz sua caminhada matinal, além de não relaxar na musculação da Academia. Semana passada caminhando numa bela manhã de sol pelo calçadão da praia de Jatiúca, eu fui abraço por trás, era Aristóteles, alegre, sorrindo, andou a meu lado, conversamos descontraidamente, até que meu amigo filosofou.
– Tudo pode acontecer com qualquer cidadão do mundo, com qualquer cristão, com qualquer homem de bem.
Eu fiquei surpreso com o pensamento espontâneo e tempestivo, perguntei o que havia acontecido. Aristóteles baixou o ritmo da caminhada confidenciou-me sua história quase sussurrando.
– O Satanás está solto, provocando! Veja você meu irmão, um homem como eu, crente em Deus, assisto à missa todo domingo, temente ao castigo divino, caí na tentação do Cão. O Diabo tomou forma de uma morena da cor de mel, de um sorriso cativante, de uma tentação encantadoramente diabólica. Ângela, minha querida e santa mulher, contratou essa moça para trabalhar em casa. A capeta veste um short desfiado para suas atividades domésticas. Normal para ela, para mim, uma sedução. O sangue ferveu em minhas veias ao me deparar com as pernas roliças, perfeitas, daquela mulher. Todo dia Ângela sai para a casa dos filhos, ver os netos, eu fico sozinho trabalhando no quarto que transformei em escritório. Anália, a moça, é esperta, na cozinha prepara um gostoso almoço, ela tem mãos de ouro, mãos encantadas, em tudo que pega, dá vida. Até engordei, contrariando meu zeloso médico. A diabinha em forma de mulher percebeu meus olhares para seu corpo fascinante. Certo dia, por volta das 10 da manhã, ela entrou no meu gabinete, eu trabalhava em cima de um processo difícil. Anália varria distraída, vestia short de jeans desfiado salientando o maravilhoso traseiro. Acabou-se minha concentração, eu olhava com o rabo do olho para a endiabrada, o sangue esquentava. O Demônio conhece bem as fraquezas humanas. Ela se aproximou bem perto do birô, perguntou se eu era advogado, se soltava preso da cadeia. Foi direta, contou-me que um amigo, um ex-namorado, que tirou sua virgindade quando era mais jovem (achei uma provocação, detalhe desnecessário de contar), estava na prisão, assaltou um posto de gasolina. No maior dengo, me chamando de patrão, disse que faria tudo, tudo mesmo (outra provocação da diabinha) para soltar o amigo. Eu me contive, a satânica de voz angelical, chegou-se bem junto, o decote mostrava os seios pequenos e duros. Levantei-me respirando fundo, disse que iria pensar no caso, evitei continuar olhando, estava à beira do pecado. Sai do escritório antes que fizesse uma besteira.
À noite contei à Ângela sobre o namorado da moça, omiti os detalhes do Demônio que me acendeu uma fantasia libidinosa. No sábado fui com a jovem Anália à cadeia conversar com o marginal. Como não houve ferimento e ser primário, solicitei habeas-corpus para o preso esperar o julgamento em liberdade. No retorno da prisão, conversávamos sobre os procedimentos quando de repente, ela falou no maior descaramento, notava meus olhares e queria agradecer com amor, pelo que fiz por ela. Entramos num motel da Via Expressa. Foi uma tarde maravilhosa de amor. A diaba sabe tudo na cama, me ensinou o caminho do purgatório. Ainda não tive coragem de me confessar, se eu morresse hoje, iria para o inferno!
Fico torcendo para chegar a quinta-feira, dia marcado para desfrutar de minha tinhosa num motel. Em casa me seguro para não agarrá-la, estou encantado com a diabinha. Nunca pensei que um dia poderia ser envolvido pelos caprichos do Demônio. Esse pecado pode acontecer com qualquer cristão, o Cão sabe quando provocar nossas fraquezas. Até veste short.
Perto de casa nos despedimos, atravessei a avenida pensando, avaliando como Lúcifer se aproveita da imperfeição humana. É preciso ter cuidado para não cair em tentação.