Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Violante Pimentel - Cenas do Caminho sábado, 08 de agosto de 2020

A SORTE (CONTO DA MADRE SUPERIORA VIOLANTE PIMENTEL, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

A SORTE

Na primeira década do século passado, havia no Palácio do Governo do Rio Grande do Norte, um contínuo chamado Alcântara. Nessa época (1906 a 1909), o Presidente da Republica era Afonso Pena, e estava agendada sua vinda ao Estado. Ao tomar conhecimento dessa visita, o contínuo pediu ao Governador Alberto Maranhão, para fazer parte da comitiva que iria esperar o Presidente na Estação Ferroviária de Nova-Cruz, fronteira do Rio Grande do Norte com a Paraíba.

O pedido do contínuo foi acatado, mas, mesmo assim, o Secretário achou um absurdo essa liberalidade. Afinal, Alcântara era um simples contínuo e estaria ocupando o lugar de algum político ou de mais algum puxa-saco importante. Era muito cabimento do contínuo, querer integrar a comitiva que iria esperar o Presidente da República, em visita oficial ao Governador do Rio Grande do Norte.

Indignado, o Secretário chamou o contínuo em seu gabinete e disse-lhe:

– O Governador deu permissão, então você vai na comitiva, para esperar o Presidente da República. Mas, preste atenção:

Antes do trem chegar na estação, você salta no triângulo, que é o ponto de manobra dos trens, na entrada das estações.

O trem do Governador chegou adiantado. Alcântara saltou no triângulo. Pouco depois, o trem trazendo o Presidente entrou no triângulo, para fazer a manobra. Alcântara, sozinho, subiu, foi entrando e deu de cara com o Presidente da República. E foi a primeira pessoa a dar as boas-vindas à “Sua Excelência”. Muito cordial e simpático, Alcântara foi logo mostrando-lhe a cidade pela janela. Quando o trem do Presidente chegou à Estação Ferroviária, o Governador, o Secretário do Governador, os puxa-sacos do Governador e os demais integrantes da comitiva levaram um grande susto. Alcântara, o contínuo do Palácio do Governo, apareceu na porta do trem, ao lado do Presidente da República e foi quem o apresentou às autoridades estaduais.

Seguiram todos para Natal, numa viagem cansativa e cheia de poeira, quando o progresso tecnológico era uma utopia.

Cansado, o Presidente Afonso Pena chegou ao Palácio do Governo e pediu logo um banho. De repente, entreabriu a porta do banheiro, chamou alguém e perguntou:

– Onde está o Alcântara?

Alcântara apareceu, entrou no banheiro e logo saiu. Ninguém entendeu nada. Chamado mais duas vezes pelo Presidente, Alcântara atendeu aos pedidos, e, novamente, logo saiu.

No dia da partida, à beira do cais ( o Presidente voltou de navio), o Presidente Afonso Pena chamou Alcântara , deu-lhe um abraço, e lhe falou alguma coisa no ouvido. Alcântara sorriu, saiu e não disse nada a ninguém. Os curiosos ficaram “doentes” de raiva.

Um mês depois, o Diário Oficial publicava um ato do Presidente Afonso Pena, nomeando o contínuo Alcântara, Administrador do Porto de Santos , no Estado de São Paulo. Foi um escândalo, no Rio Grande do Norte.

No bolso do paletó, Alcântara carregava uma garrafinha de conhaque francês, tamanho portátil. E Afonso Pena apreciava muito um golinho de conhaque francês.


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