No deserto do Congresso em pleno feriadão, a presença do deputado Celso Jacob, do PMDB do Rio de Janeiro, chamava atenção — mas não era um exemplo de diligência. Em junho, o parlamentar foi condenado a sete anos e dois meses de prisão em regime semiaberto, o que significa que ele pode trabalhar durante o dia, mas tem de dormir na cadeia. Na Papuda, a penitenciária de Brasília, Celso Jacob, de 60 anos, é o detento número 125540. À noite, fica numa cela de 12 metros quadrados, na ala destinada a vulneráveis. De segunda a sexta, exceto nos feriados, Jacob acorda antes de o sol nascer, veste-se e, sem tomar café, dirige-se às 7 horas em ponto ao estacionamento do presídio, onde uma Santana Quantum 1995 o espera.
O carro pertence a uma funcionária do gabinete do deputado, cujo salário é de 2 300 reais. Os 20 quilômetros que separam a Papuda do Congresso são percorridos em 35 minutos (o veículo tem uma multa por excesso de velocidade no trajeto). Ao chegar à Câmara, o deputado começa sua transformação de presidiário em parlamentar. Depois de ir ao gabinete, sua primeira atividade é tomar um banho quente (na prisão, a água é gelada) e trocar de roupa (o uniforme da Papuda é calça e camiseta branca). O desjejum vem na sequência. Numa semana normal, ele tem uma agenda de reuniões. Em semana de feriadão, não havia nada para fazer, e o dia do parlamentar se resumiu a ir ao caixa eletrônico, à barbearia, ao restaurante — e a falar ao celular, tudo dentro do prédio do Congresso, de onde só pode sair c autorização judicial. Por isso, o deputado não desgruda do aparelho (na prisão é proibido usá-lo).