“Música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.” (Artur da Távola – 1936 – 2008)
A música brasileira sempre foi muito diversificada e rica, a começar pelas Modinhas do século passado, que eram poemas musicados, cheios de lirismo, e que encantavam seresteiros e boêmios apaixonados.
As serenatas eram verdadeiras declarações de amor, em forma de música, nas noites escuras ou enluaradas, quando a era cibernética era uma utopia. Não havia violões elétricos, e no silêncio da noite, as serenatas eram aguardadas com ansiedade, pelos corações enamorados.
Em Nova-Cruz (RN), onde nasci e me criei, demorou muito a ter energia elétrica. O progresso custou muito a chegar. Os violões elétricos não existiam, o que aumentava ainda mais o romantismo das serenatas, nas noites de luar.
São lembranças que o tempo jamais apagará.
O lirismo de antigamente sumiu no tempo e no espaço.
A música atual tem como focos principais a harmonia e o ritmo. A poesia vem em último lugar.
É a evolução dos tempos.
Décadas atrás, entrando pelo século passado, havia composições musicais, principalmente carnavalescas, com letras hilárias, de insultos à mulher. Eram músicas de xingamento e desforra, em brigas de casais, por causas variadas e hilárias, onde, costumeiramente, quem pagava o pato era a figura da sogra.
Um detalhe interessante é que os xingamentos, naquela época, não baixavam o nível, como acontece em muitos forrós atuais, de brigas de casais, onde as palavras mais inocentes são “rapariga, “cachorra” e “mulher de cabaré “.
Dando um mergulho no passado, encontrei estas canções antigas, hilárias, verdadeiros recados com desaforos, entre marido e mulher:
“FAUSTINA” , da autoria de Wilson Batista (gravada por Jorge Veiga e também por Moreira da Silva), e “CALA A BOCA, ETELVINA .
* * *
Faustina, corre aqui depressa,
Olha quem está no portão
É minha sogra com as malas,
Ela vem resolvida a morar no porão.
Vai ser o diabo, vamos ter sururu com o vizinho.
Não estou pra isto, eu vou dar o fora,
Decididamente, eu vou morar sozinho.
É minha sogra, mas tenha paciência.
Não há quem possa com essa jararaca.
Meu sogro foi de maca pra assistência,
Com o corpo todo retalhado à faca.
Mas comigo é diferente,
Não tenho medo desta cara feia,
Pego a pistola e desperdiço um pente,
Ela descansa e eu vou pra cadeia.
* * *
Eu já vi que a minha sina
É viver pra te aturar
Cala a boca, Etelvina
Sossega a língua ferina
Apague a luz
Que amanhã vou trabalhar
Vou me levantar de manhã cedo
Que eu tenho medo de perder o trem
Deixa-me dormir, por caridade
Pois o trem da Piedade
Não espera por ninguém quando vem