Dr. Calvino, um conceituado dentista de uma cidade do interior nordestino, resolveu se mudar para Natal, com esposa e filho. Queria que o menino estudasse no Colégio Salesiano.
Feita a mudança, a família foi morar em uma excelente casa, num bairro nobre de Natal.
Para trabalhar, o dentista alugou duas salas conjugadas, no primeiro andar de um prédio comercial, no bairro do Alecrim.
Na primeira sala, instalou seu consultório odontológico. Na segunda, mandou colocar armadores, onde mantinha sempre armada uma bonita rede, com o seu nome bordado na varanda. Como bom nordestino, gostava muito de rede e não desprezava a sesta depois do almoço.
Muito gordo e brincalhão, certa vez, Dr. Calvino recebeu em seu consultório, Dona Dalva, uma senhora de 65 anos, de quem era contraparente. Após um exame minucioso dos seus dentes, falou para a mulher que ela precisava extrair os cacos de dentes que ainda restavam e depois colocar uma prótese dentária móvel. Em suma, Dona Dalva precisava de dentadura postiça completa (superior e inferior). A mulher concordou e o tratamento foi iniciado.
Depois de extraídos os cacos que restavam dos dentes, e a gengiva da paciente já haver cicatrizado, foi tirado o molde e encaminhado ao protético. Chegou o dia da prova da dentadura superior. Dr. Calvino pôs a peça na boca de Dona Dalva, tentando encaixar, mas não houve jeito. Alguma coisa estava errada. Depois de outras tentativas, o dentista disparou num riso incontrolável e falou para a mulher:
– Dalvinha, pelo amor de Deus, me desculpe! Essa peça não é a sua. É a dentadura nova de Seu Antônio Santos. Ele este aqui hoje pela manhã para provar. Dona Dalva ensaiou uma crise de vômito.
Dias depois, as próteses dentárias de Dona Dalva ficaram prontas, e impecáveis.
Numa tarde de sexta-feira, por volta das 14 horas, Dr. Calvino atendeu um antigo paciente, para uma extração dentária. Aplicou o anestésico e recomendou que ele ficasse de boca aberta. Aguardando o efeito da anestesia, deitou-se na sua inseparável rede. Ainda com o estômago pesado do almoço, o dentista ia começando um cochilo, quando o senso de responsabilidade o chamou. Lembrou-se do paciente que o aguardava na cadeira, com o dente anestesiado e de boca aberta. Quis se levantar da rede, mas não pôde. Tentou diversas vezes, até que o armador se quebrou e a rede despencou no chão. A situação piorou ainda mais.
Dr. Calvino, sentindo dores horríveis na coluna e sem conseguir se levantar, pediu socorro ao paciente, que ainda o aguardava na cadeira, de boca aberta. Pediu-lhe que telefonasse para seu filho, para acudi-lo com urgência. Rapidamente, o rapaz chegou e providenciou uma ambulância para transportar o pai ao Pronto-Socorro. A queda da rede, por um triz não o deixou paraplégico. Dr. Calvino sofreu uma séria fratura da coluna vertebral e passou vários meses afastado da suas atividades profissionais.