Velha amiga quixabeira
São tantas recordações
Que ao longo da vida inteira
Não contive as emoções.
Já que as lembranças infindas
Vêm me apontar coisas lindas
De um passado tão feliz
Vou remexer a memória
Para narrar tua história
Relatando os teus perfis.
A tua fronde aprazível
Dona de farta ramagem
Estava bem compatível
Com a tua bela paisagem.
Eras sempre aconchegante
Que quem chegasse ofegante
Vencido pelo cansaço
Logo se revigorava
Depois que ali se abrigava
Acolhido em teu regaço.
Estavas bem situada
Ao lado do casarão
Na cerca localizada
Bem pertinho do oitão.
Onde belos passarinhos
Vinham construir seus ninhos
E trinar seus belos cantos
Eu ficava inebriado,
Absorto, extasiado,
Escutando esses encantos.
Vinha o gado e ali ficava
Na hora do sol a pino
Já que a sombra assegurava
Um agasalho divino.
No conforto se deitavam
Bem tranquilos ruminavam
Nesse abrigo acolhedor,
E tu no mais doce enleio
Abrigava-os no teu seio
Com carinho e muito amor.
Em ti eu guardei os sonhos
Da minha infantilidade
E em momentos tristonhos
Recorro a minha saudade
Pra que me leve outra vez
Com a maior rapidez
Quem sabe assim eu consiga,
Matar minha nostalgia
Refazendo a alegria
Junto a quixabeira amiga.
Em momentos de retiro
Na doce alucinação
Dou um profundo suspiro
E na rememoração
Com muito orgulho me ufano
Ao rever eu e meu mano
Brincando ali novamente
Essas lembranças castigam
Provocam e até instigam
Para a tristeza plangente.
O ser humano é terrível
Pois só pensa em depredar
Com seu instinto insensível
Decidiu por não poupar
A quixabeira querida
Onde iniciei a vida
Na doce recreação
Nada mais dela hoje existe,
Só a saudade persiste
Dentro do meu coração.
Essa quixabeira bela
Já não subsiste mais
Para não me esquecer dela
Vou arquivar nos anais
Essa minha narrativa
Pra que permaneça viva
Mesmo em forma de saudade
E ao evocar tempos idos
Lembrar momentos vividos
Com muita felicidade.