Historicamente, o Estado de Alagoas sempre teve como suporte econômico a fabricação do açúcar. A zona da mata onde ficam as Usinas de Açúcar é um tapete verde de canavial. Era emprego garantido para os trabalhadores rurais até que um dia chegou a mecanização com possantes máquinas e tratores, desempregando muita gente. Como não houve uma política de fixação do trabalhador rural no campo, eles emigraram para capital em busca de emprego. Muitos construíram favelas no Vale do Reginaldo-Salgadinho, lançando os dejetos humanos no riacho. No decorrer dos anos essa favela aumentou; hoje são mais de 20 mil casebres que tornam o Riacho Reginaldo-Salgadinho um esgoto a céu aberto, poluindo o mar e a praia da Avenida da Paz.
As jovens que chegavam do interior encontraram poucos empregos, para sobreviver havia uma solução: ser empregada doméstica. A procura foi tanta que a burguesia, a classe média, chegava a ter três ou quatro empregadas a troco da alimentação, da dormida e um pequeno salário. Essas empregadas geralmente jovens, e como tal, gostavam de sair, frequentar as festas populares, brincar o carnaval, sempre alegres e faceiras. Gostavam também de namorar, seus hormônios funcionavam bem. À noite passeavam nas praças onde apareciam pretendentes e outros aproveitadores. Geralmente essas jovens do meio rural eram mais liberais que as preconceituosas jovens da classe média que guardavam a virgindade para o casamento.
Nessa época, os jovens tinham uma namoradinha estudante dos colégios de freira. Depois do jantar eles partiam para namorar no portão da casa, com direito a uma volta na calçada. Quando dava nove ou nove e meia, o severo pai aparecia e pigarreava. Era sinal para a jovem entrar, deixando o namorado excitadíssimo pelo xumbrego, com três opções: Recolher-se em casa para se masturbar; subir aos bordéis para um descarrego, dependia da grana; a terceira opção era partir à cata das empregadas domésticas que desfilavam na praça, bonitinhas e cheirosinhas. Elas não eram enganadas, sabiam que o jovem não estava afim de casamento, queria diversão. E arrastavam para locais mais escuros, compatíveis. Elas tinham pontos preferidos: praça do Centenário no Farol; praça Deodoro no Centro e em torno da Avenida da Paz, à noite muitos jovens vadiavam na areia morna da praia da Avenida.
O politicamente correto ainda não existia. Nas casas geralmente havia apenas um banheiro e nos quartos, embaixo da cama, colocava-se um penico para necessidade noturna. Alguém, um dia, chamou uma doméstica de “peniqueira” e a alcunha pejorativa pegou. As jovens empregadas não gostavam desse apelido. Porém, banalizou-se. Na praça Centenário alguns jovens, depois das onze, reuniam-se para contar aventuras e conquistas. Chegaram a criar uma associação, os sócios deram o nome de UCPM, União dos Conquistadores de Peniqueiras de Maceió. Era bem organizado. As reuniões aconteciam na garagem da casa de um primo, na Rua Comendador Palmeira. O regulamento elaborado por um estudante de Direito, foi lido e aprovado pelos sócios fundadores. Havia uma escala hierárquica entre os sócios com os postos militares. O jovem entrava como soldado, à medida que contasse conquistas noturnas, ganhava promoção, decidida pelos sócios presentes. Formou-se uma hierarquia rígida entre sócios, de soldado ao general comandante. Toda sexta-feira na garagem de meu primo havia reunião e gostosas gargalhadas, sempre com respeito às domésticas, a causa e inspiração viva daquela associação.
Meu amigo Ávila era Major, muito atuante, não perdia reuniões, era o primeiro da lista na promoção a coronel. Foi quando ele começou a namorar a bonita vizinha, um sonho antigo. Quando estavam na praia, ou no cinema, ou ficavam sentados num banco da praça, em vez em quando passava um amigo e o cumprimentava batendo continência: “Boa noite Major”. A namorada ficou cismada perguntou sobre aquela continência; Ávila desconversava. Até que um dia a namorada, conversando com a cunhadinha, tocou no assunto; a irmã de Ávila abriu o jogo, contou todos os pormenores da UCPM e porque seu irmão tinha o posto de Major.
À noite, na porta da casa da namorada, ela não o deixou tocar em sua mão, e contou que sabia tudo sobre a UCPM, e seu posto de Major. Ávila segurou a mão da namorada e prometeu com convicção:
– Minha querida eu ainda sou Major, é a maior injustiça da UCPM, garanto, lhe prometo como daqui para o final do mês eu serei promovido a Coronel.