José Romeiro, um comerciante de Natal, gostava muito de música e era um pesquisador nato da música antiga, especialmente da “modinha”. Também sabia dedilhar um violão, e gostava de se acompanhar cantando. Indiscutivelmente, tinha cultura musical e fazia questão de dizer. Não esperava elogios. Ele mesmo elogiava a si próprio, pois gostava de propagar as suas boas qualidades. Chegou a publicar uma coletânea de modinhas, focalizando antigos compositores do cenário musical brasileiro. Não tinha formação acadêmica, mas era metido a sabichão.
Desprovido de qualquer modéstia, dizia, abertamente, que se considerava o homem mais inteligente de Natal. Mesmo sendo um homem íntegro, essa sua vaidade o tornava extremamente antipático aos olhos das pessoas ligadas à intelectualidade da cidade. Isso também incomodava os seus próprios amigos.
Estavam se aproximando as festas de Natal e Ano Novo. Findava a década de 60 e iria começar a década de 70. As pessoas crédulas aguardavam, com ansiedade, as previsões dos videntes, sobre os acontecimentos que atingiriam a vida da cidade e do país, no novo ano.
Uma conhecida vidente de Natal, “Mãe Jacinta”, que morava no bairro das Rocas, fez suas previsões para o novo ano, e o principal jornal da cidade publicou a sua entrevista. Entre as previsões estava escrito que, logo no primeiro semestre, morreria em Natal um grande vulto, a maior cultura do Rio Grande do Norte, uma das figuras mais ilustres da cidade. A notícia publicada no jornal se espalhou. A repercussão foi grande, e virou assunto principal em todos os lugares da cidade, inclusive nas mesas de bar. A vidente deixou claro que o óbito do grande homem ocorreria em Natal mesmo.
Não deu outra coisa…José Romeiro tomou para si a previsão de “Mãe Jacinta”, e entrou em pânico. Antes que se cumprisse o agouro, preparou as malas e viajou, imediatamente, com a família, para o Rio de Janeiro. Só voltou a Natal no final do ano de 1970.
São e salvo!!!