A PORCA RUIVA
LENDA TERESINENSE
(Texto e imagens garimpados no Google)
Algumas décadas atrás viveu em Teresina uma mulher que, por infortúnio do destino, exercia um dos mais antigos ofício do mundo. Era prostituta.
Quando jovem, era a mais bela das mulheres da Paissandu, centro de Teresina. Todos a desejavam, e sua agenda de programas era sempre lotada.
O que contam é que por viver em pecado tinha perdido os limites morais: já madura e sem tantos clientes como na juventude chegou ao ponto de dormir com parentes em troca de dinheiro, razão pela qual teria sido amaldiçoada.
Nas noites de quinta para sexta-feira, virava uma porca ruiva, enorme, com dentes de javali. A fera em que se tornava era tão grande que pesava cerca de oito arrobas. Nos dias em que se transformava, saía fuçando furiosamente pela cidade, perseguindo aqueles que ousassem trafegar por Teresina nas horas mortas da noite.
Desde que a maldição lhe atingiu, sempre que estava em forma humana levava uma vida maldita, sem o encanto da bela prostituta que fora na juventude. Vivia maltrapilha e embriagada, como que em nítido desequilíbrio por sua sorte infeliz.
Eram muitos os que diziam ter sido perseguidos pelo bicho. Na Vermelha, um magarefe de nome Zé, que trabalhava no Mercado Público, passou a ser chamado Zé da Porca depois que a criatura lhe botou para correr. No Dirceu, as criancinhas morriam de medo da fera. Por toda Teresina, ela espalhava seu reinado de terror.
Contam que uma noite um homem se engalfinhou com a figura do cão e lhe acertou com um tiro de raspão no rosto, o que fez o bicho sair correndo grunhindo em direção ao Rio Parnaíba.
No dia seguinte, as pessoas, desconfiadas da velha prostituta, foram conferir o estado da mulher e todos perceberam sobre um dos seus olhos um curativo, bem no lugar em que o homem tinha atingido o bicho.
Depois disso, as dúvidas do povo estavam confirmadas: a velha prostituta bêbada era quem se tornava porca nas noites de quinta para sexta-feira. As crianças não podiam vê-la passar pela rua, que corriam todas amedrontadas para casa. Depois de um tempo, como que fugindo dos olhares acusadores, ela desapareceu e nunca mais foi vista.
Há quem diga que ela já morreu, mas tem gente que jura de pé junto que ela apenas mudou de residência e que ainda vive por aí em algum município do Piauí, bem idosa, se transformando por aí nas noites de quinta para sexta-feira.
TEXTO: JOSÉ GIL BARBOSA TERCEIRO
ILUSTRAÇÃO: DOUGLAS VIANA
Boa noite, você tem foto da Porca Ruiva quando jovem
Infelizmente, não! Que se saiba, no tempo dela jovem, não posou para fotógrafo algum.