Pilando paçoca
A nuvem acinzentada vem, e traz consigo os primeiros e inconfundíveis sinais do anoitecer – para corroborar, o som das badaladas dos chocalhos das cabras e bodes no chiqueiro.
É o sertão. É avida que a gente viveu e que quase mata de saudade.
As “oiças” se voltam para um som, também rítmico, que só os que ali nasceram conseguem identificar:
– Tuf-tof! Tuf-tof! Tuf-tof! Tuf-tof!
É a batida no pilão preparando a paçoca. Paçoca de carne seca (carne seca, cebola roxa, pimenta do reino, farinha à vontade), que vai ser comida com café preto torrado em casa, para uns e com aquele maravilhoso baião de dois “grolado” para outros.
– Tuf-tof!! Tuf-tof! Tuf-tof!
Continuam as batidas, agora mais lentas. A paçoca está pronta.
No fogão tocado a lenha, uma lata presa ao teto por um arame, ferve a água para o café que será coado no bule de ágata. À mesa, as cumbucas e as colheres, e um alguidá “capaçoca”.
– Comam à vontade, mas não esqueçam dos outros! Diz a avó, que, com aquela receita ganharia de lavagem qualquer Master Chef.
Lá fora, no alpendre frontal da casa, o lampião à gás está repleto de mariposas. O silêncio é tão profundo, que dá para escutar aquela distante e interminável sinfonia de apenas duas cigarras.
Mas, nos tímpanos de quem muito escutou aquilo, embora muitos anos tenham se passado, continua o aviso rítmico:
– Tuf-tof! Tuf-tof! Tuf-tof!
Paçoca de carne seca