A ONIPRESENÇA DE DEUS
Paulo Azevedo
– Pai, Deus existe? – Perguntou a Pequena antes de dormir, deitada, com a cabeça apoiada em meu braço.
– O que você acha? – Respondi, já perguntando, com os olhos em um livro.
– Existe!
– Então existe, filha.
– E por que algumas crianças dizem que Ele não existe, igual ao Papai Noel?
– Quais crianças?
– Algumas.
– Sei lá, de repente, os pais não gostam da poesia da vida. Filha, é questão de fé, questão de acreditar.
–Você acredita, pai?
– Acredito!
– Mas você já viu Deus?
– Sim!
– Sério? Quando? Onde?
– No dia em que você nasceu, nos olhos de sua mãe, nos abraços de sua vó, nas gargalhadas com seu tio, nas lembranças de seu avô, no rabinho da Panqueca, nossa cachorrinha, balançando, quando a gente chega em casa, na bagunça com suas amigas...
– Eu tenho muitas amigas, sou uma garotinha feliz, você não acha?
– Acho, Deus está aí, na amizade, no carinho, nas mãos dadas, nas festas de pijama. Para aqueles que disserem a você que Deus não existe, você falará tudo isso, pois também não provaram que Ele não existe, entendeu?
– Mais ou menos. Dizem que não existe, mas não provaram que não existe, só isso, né?
– Exatamente. O que você prefere?
– Que Deus existe.
– Por quê?
– Porque tenho muitas amigas e cada uma é de seu jeito.
– O que Deus tem a ver com isso? – Desafiei.
– Ele está um pouquinho em cada uma e, se juntar todas, Deus estará ali.
– Vamos rezar, filha. Amanhã, você acordará cedo.
– Acordar cedo? Só que não. Te amo, pai
– Te amo filha, jamais perca sua fé.
– Pode deixar, pai.