A OBRA DE ARTE DO SERTÃO
Jéfferson Desouza
Peguei paleta de tinta e pincel
Preparei bela moldura
Pra fazer uma pintura
Da minha terrinha amada
Pintei a terra rachada
O sol de imenso clarão
Pinto novo ciscando o chão
Carro de boi e arado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Brincadeira de ‘tõiom’
Banguela escovando a chapa
Carrinho feito de lata
Guri mexendo com um ‘imbuá’
Imponência do carcará
Novena santa e procissão
Doce de leite e mamão
Vaqueiro tangendo o gado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Pedra em U de amolar foice
Cocheira, mata-burra, Porteira
Pra dor chá de casca de aroeira
Forquilha, ‘cangáia’ e ‘fuero’
Galinha indo pro ‘pulero’
Algazarra de um pifão
Moça que em bananeira faz coração
Com o nome do pretendido a amado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Minino levando ‘peia’
Reformista de foto
Saco de chapa pra comprar Voto
Lambu cantando no ‘mei’ mato
Criação de guiné e pato
Pinico caso haja precisão
Forró a luz de lampião
Com pimenta ‘acanaiado’
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Bejú, goma de tapioca
Lavar roupa em lajedo
O cantar do galo bem cedo
Manga manteiga de vez
Camisa de linho xadrez
Arapuca, arataca, ‘assaprão’
Político rodeado de babão
Ganhando com voto comprado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Lagartixa na parede
Um Cachorro bom de caça
Remendo no joelho da ‘carça’
Do sangue de porco o ‘churisco’
Devoção a ‘padim’ ‘pade’ 'Cíço'
Fé em Frei Damião
Virgulino lampião
Cangaceiro respeitado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Casa de farinha, broca queimando
Bingo de uma garrota na praça
Dois ‘bebu’ tomando cachaça
Depois se 'travando na briga
Rapadura, 'alfinim' e batida
Tiro alto de um mosquetão
Time de bola num caminhão
Fazendo folia se tiver ganhado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Treze filho, trinta neto
Água boa de cacimba
Uma jega com um jegue em cima
Se procriando num desmantelo
‘Muié’ varrendo o terreiro
Lenha queima no Fogão
Na mesa de refeição
Um banco de madeira alongado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
Fazer roçado no baixio
Uma panela bem areada
A disputa da vaquejada
Comprar no dia da feira
Um cochilo numa esteira
‘Três homem’ a bater feijão
Da lida com a plantação
O cabra chegando enfadado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão
A mata sem folha e cinzenta
Pela seca maltratada
Vaca morta na estrada
Milho sem querer brotar
E o sertão vindo a mudar
Ao cair uma gota no chão
E no som do primeiro trovão
O sertanejo Esperançado
Desenhei tudo no quadro
Do qual batizei sertão