Zozibini Tunzi é o nome da Miss Universo 2019 . A sul-africana, de 26 anos, foi coroada na noite de ontem, em Atlanta, nos EUA, onde aconteceu o concurso. Após a vitória, a discussão sobre representatividade e, principalmente, por uma mulher negra ser um símbolo de beleza mundial, voltou a circular nas redes sociais. Mas, afinal, por que esse título é importante? Quatro mulheres negras respondem.
Luana Genót , diretora do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) afirma que essa conquista é uma possibilidade de projeção para um novo futuro:
— É um acalanto nos dias de hoje, um respiro, é um oxigênio de esperança. É entender que representatividade importa , sim. Há duas semanas, a pequena Maria se sentiu representada ao ver a Maria Júlia Coutinho na televisão. Isso abre n ovos horizontes no campo profissional, na autoestima e faz com que as pessoas tenham novas perpectivas e se projetem em outras que as inspiram. É a possibilidade de projetar um futuro a partir de uma referência que você vê. E todo mundo ganha. Isso é muito importante para o nosso país e para o mundo. Então, viva Zozibini Tunzi! — comenta Luana, que é ex-modelo e acredita que, mesmo com a vitória de Zozibini, ainda falta uma mudança efetiva no mundo da moda.
— Não sei se uma Miss Universo é capaz de causar a virada de chave sistêmica que a moda precisa. Estamos avançando e podemos ver isso aos poucos nas revistas, nas campanhas etc. Mas, de maneira global, há muito a ser feito. Espero que Zozibini possa servir como mais um exemplo para criar novas referências e parâmetros de beleza na moda. Acredito que uma única pessoa não pode carregar o peso de mudar essa estrutura. Precisamos de mil mulheres como ela nas capas das revistas para ter a mudança efetiva e a representatividade que a população negra merece. Inclusive, as empresas precisam repensar para além das figuras externas, mas internamente também. Precisamos de pessoas negras pensando as campanhas e ocupando cargos de liderança para isso refletir em uma mudança externa — completa.
Para a jornalista e influenciadora digital Luiza Brasil , de 31 anos, o concurso deve ser repensado, mas a vitória de Zozibini é significativa, sobretudo por ela ser uma mulher negra fora dos padrões embranquecidos impostos pela sociedade.
— É importante a gente refletir sobre esses concursos de beleza e o quanto eles são opressores . E, além disso, questionar: o que é ser belo hoje em dia?. Mas acho que é interessante e inspirador uma mulher como ela, negra de pele escura e cabelo crespo , estar no espaço de uma instituição tradicional como o Miss Universo. É um avanço e uma grande virada de chave porque é recorrente ver as mulheres negras que ocupam esses espaços com características embranquecidas. Para mim, é surpreendente essa mulher, com todo esse perfil de n egritude , asssumir o posto de maior destaque dentro do Miss Universo — afirma a influencer de moda.
A youtuber Gabriela Oliveira, a Gabi de Pretas , de 27 anos tem críticas ao concurso Miss Universo, mas, para ela, enquanto ele existe é significativo uma mulher negra como a ganhadora do título.
— É um concurso que reforça muitos estereótipos sobre a mulher. Carrega todo um simbolismo, com análise de discursos e uma elegância que é sinonimo de magreza. Isso tudo em meio a debates sobre gordofobia e quebra de padrões . Mas não dá para negar que, para as mullheres negras, que por muito tempo foram afastadas dessa visão do belo, ter um título vindo com uma mulher negra de cabelo curto , de pele escura e traços negros é significativo tanto para nós adultos quanto para as crianças também. Porque acredito que devemos construir imagens positivas ligadas às pessoas negras em diversas áreas, não só na moda — come
A jornalista Flávia Oliveira , acredita que, além da imagem, o discurso feito por Zozibini foi representativo.
— Zozi foi a quinta negra vencedora em 68 edições do Miss Universo. Embora concursos de beleza sejam competições, muitas vezes, questionáveis, foi uma vitória importante, sim. Não apenas pelo reconhecimento à beleza negra, historicamente depreciada, mas pelo discurso que a sul-africana exibiu. Ela defendeu a representatividade e se colocou como referência para a autoestima de meninas negras mundo afora. A repercussão nas redes sociais no Brasil confirma o significado simbólico da escolha.