A MÚSICA DO CARIBE
Raimundo Floriano
A música caribenha entrou em minha vida muito antes de eu pensar que um dia seria colecionador de discos, ainda em minha adolescência, isso na metade dos Anos 1950. Nos rádio-bailes e nas festinhas incrementadas a radiola, os ritmos brasileiros, como o samba, a marcha, o baião, o frevo, o arrasta-pé e o xote, emparelhavam-se com outros vindos lá do Mar das Caraíbas.
Era o bolero, com o cubano Bienvenido Granda e a Orquestra La Sonora Matancera; a rumba, com o catalão-cubano Xavier Cugat e Sua Orquestra; o merengue, com o dominicano Luis Kalaff e Sua Orquestra e com Bilo e Seu Conjunto Venezuelano; o mambo, com o cubano Perez Prado e Sua Orquestra, sem falar na música ao vivo, nos salões sociais e também nos cabarés.
Todos esses vibrantes ritmos se originaram na fusão das culturas musicais europeia, africana e indígena, enraizadas do lado de cá do globo terrestre desde que Cristóvão Colombo descobriu as primeiras ilhas em sua histórica expedição.
Cuba foi o país que mais assimilou essa empolgante cultura e, no passado, era referência musical para todo o Mundo. Embora o merengue tenha sido inventado na República Dominicana, foi em Cuba que conheceu o auge de sua popularidade e divulgação. Havana foi o sonho dourado de todos os que amavam a música caribenha e queiram conhecer os artistas, as orquestras e os shows que extasiavam a população mundial.
O merengue foi, de forma geral, a matriz de todos os ritmos surgidos nesse mar-oceano que separa a América do Norte da América do Sul. Esparramou-se com seus derivados, como o calipso, em Trinidad e Tobago, a cúmbia, na Colômbia, o cha-chá-chá, no México
O Brasil, em boa hora, absorveu toda essa musicalidade. No Norte, o carimbó, que teve seu período áureo nos anos 1970; no Nordeste, a lambada, sucesso absoluto nos anos 1980; e, na Costa Maranhense, o reggae, invenção jamaicana que se aboletou em São Luís, fazendo-a hoje conhecida como a Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae.
No início da Década de 1960, apresentou-se em Brasília um espetáculo de Trinidad e Tobago com um som para mim desconhecido: orquestra cujos instrumentos eram tambores de gasolina com os fundos rebatidos, dos quais se tirava toda a escala musical. Era a famosa steel band. E não foram só as quentes melodias que me impressionaram. A coreografia executada pelos creoles, rapazes e moças, foi algo inesquecível, a que nunca mais, nem no cinema, voltei a assistir.
Extasiado por sua exuberância, procurei adquirir discos desse gênero musical, o que não foi rápido nem fácil. Só uns 10 anos depois, calhou de eu servir de intérprete para o Embaixador de Trinidade e Tobago no Brasil, que me presenteou com o LP How You Sweet So!, da Solo Harmonites Steel Orchestra. Logo depois, minha prima Socorrinha Evelim, diplomata, retornado do México e passando pela Venezuela, me trouxe de lá o LP El Rítmo del Caribe, com a venezuelana The Invaders Steel Band. Depois disso, adquiri mais outros álbuns, como o da The Real Thing Steel Band, das Bermudas.
São, em sua totalidade, ritmos alegres, dançantes, quentes. Falando em quentura, acho que a temperatura de cada região tem a ver com a feição de sua música, efusiva ou contida, à proporção em que o clima vai esfriando. Tiremos como exemplo, países como o Chile, o Uruguai e a Argentina, dos quais pouca notícia se tem sobre suas criações musicais. O tango, marca registrada dos argentinos, é grave, soturno, dramático, circunspecto, trágico.
Outro fenômeno que observei nesta minha cachaça discófila foi o desaparecimento do cenário artístico internacional dos cantores e orquestras cubanos e venezuelanos, depois do arrocho ditatorial que se implantou naqueles países, tapando a boca de seus grandes ídolos. Ainda há pouco, o regime cubano deu permissão para que as músicas gravadas por Célia Cruz, intérprete de salsas e merengues, falecida em 2003, aos 77 anos de idade, voltassem a ser tocadas naquele país. O ritmo salsa foi uma invenção da Orquestra La Sonora Matancera, que assim rebatizou o merengue ao deixar Cuba e exilar-se em Nova Iorque, fugindo da ditadura que ali acabara de se instalar.
Onde estão os substitutos de Bievenindo Granda, de Perez Prazo, de Xavier Cugat, em Cuba, de Bilo e Sua Orquestra e The Invaders da Venezuela? Escondidos por lá?
É minha intenção, traçar, pouco a pouco, os perfis de nomes que fizeram a pujança da música caribenha. Como Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e o Buena Vista Social Club, e outros mais, destacando os maiores sucessos de cada um, peças que ficaram para sempre incrustadas em nossos corações.
Por ora, aqui vai pequena amostra de diferentes ritmos identificadores da cultura musical do Mar das Caraíbas:
STEEL BAND - Merengue, Tribute to Spree Simon, de A. Roberts, com a Solo Harmonites Steel Orchestra, de Trinidad e Tobago:
MERENGUE - Cuando No Te Conocia, de D. & D., Com Bilo e Seu Conjunto Venezuelano, destacando o vocal com Cheo Garcia:
CHÁ-CHÁ-CHÁ - Las Classes de Cha Cha Cha, de Marquez e Marmolejo, com Pedro Garcia and His Del Prado Orchestra, do México:
CÚMBIA - Mentirosa, de Humberto Capello, com Nelson Henriquez, da Colômbia:
CALIPSO - Matilda, de Harry Thomas, com Harry Belafonte, o amerijamaicano, conhecido como o Rei do Calipso:
RUMBA -Rumba Azul, de Armando Orifiche, com CaetanoVeloso:
BOLERO - Perfume de Gardenia, de Rafael Hernandez, com Binevenido Granda:
MAMBO - Mambo Número 8, de Perez Prado, com Perez Prado e Sua Orquestra:
Ficou muito bom!!!
Mestre Guilherme, Obrigado! Acabo de acrescentar mais três ritmos: rumba, bolero e mambo.