Avenida da Paz, Maceió, anos 50
Ele era tenente, alto, forte e atleta, campeão de vôlei e basquete. Mas gostava mesmo era de outro jogo mais maneiro, um carteado. Aos domingos sempre almoçava em minha casa, assim que chegava entrava na rodada domingueira de pôquer baratinho, que meu pai jogava com alguns vizinhos.
Eu, no início da adolescência, admirava aquele tenente desenvolto, risonho e franco. Porém, a maior admiração era o que ele tinha de mais bonito, sua mulher. Quando o tenente sentava para jogar, ela dizia não entender como podiam perder uma praia tão bonita como a da Avenida da Paz. E me chamava para acompanhá-la, dar um mergulho. Aos domingos eu ficava em casa de propósito, à espera do jovem casal e desse convite.
Ela me abraçava pelo ombro e descíamos à praia, sentávamos na areia branca e fina embaixo da sombrinha. A Deusa era olhada e desejada por todos os homens de todas as idades. Ficavam contemplando o ritual, a divina tirava devagar a blusa e o short até aparecer seu biquíni cavado sempre em tecidos floridos. Acredito que tenha sido o primeiro biquíni usado nas praias de Maceió.
Estirava a toalha na areia, pegava um livro e deixava que o Sol e os olhos pecaminosos dos homens, inclusive os meus, tomassem conta daquele corpo perfeito, pernas esguias douradas, penugens lourinhas oxigenadas, como se fossem enfeites, dava um irresistível desejo de alisá-las. Ela pedia que lhe chamasse quando estivesse na hora do almoço para dar o último mergulho e irmos juntos para casa. Na hora do futebol, eu deixava aquela mulher deitada ia bater minha pelada. Ficava me gabando, fazendo inveja em ter uma amiga carioca. Os amigos e os mais velhos queriam saber tudo sobre aquele monumento. Antes do almoço mergulhávamos juntos, ficávamos na brincadeira de dar caldo um no outro, cruzando nossas pernas embaixo d’água ela gostava daquele jogo, de propósito alimentava minhas fantasias.
Havia um grande advogado em Maceió, com fama de competente e mulherengo. Um dia a bela criatura teve que recorrer ao doutor sobre uma herança. O famoso causídico que era um tremendo canalha, passou a maior cantada em nossa Deusa. Ela discreta, com classe se esquivou, terminou a conversa, foi embora, prometendo nunca mais voltar àquele escritório.
Só porque vestia roupas leves, sensuais, andava de biquíni nas praias e nos clubes, era uma moça extrovertida, a típica carioca, o doutor fez um erro de avaliação e continuou no assédio, por telefone ou quando a via. Mas a moça era honesta, aguentou quanto pôde o assédio. Até que um dia, acabou a tolerância, contou toda a hist6ria para seu tenente, alto, forte e bonito.
Ele mandou a esposa marcar um encontro na própria casa dizendo que o marido viajaria. No dia, na hora, sem atrasar um minuto o doutor bateu em sua porta. Logo ao entrar, ela constrangida, mandou-o sentar-se. Mas o doutor estava com a cabeça virada, agarrou-a, sem as preliminares que a hora exige.
No momento em que tentava abraçá-la, apareceu o tenente na sala empunhando uma pistola 45.
O susto deu um branco literalmente no doutor, ficou da cor de papel, gaguejava tentando explicar. O medo foi enorme, o doutor cagou-se na calça, e pedia suplicante: “Não me mate, não me mate.” Ajoelhou-se chorando.
O tenente disse-lhe que o mandaria às profundas do inferno, onde jamais cantaria uma mulher honesta. O famoso advogado chorava e gemia, pedia perdão. O tenente deixou prolongar por um tempo a expectativa, gozando do choro do conquistador. Certo momento ele pediu a mulher trazer-lhe um copo grande na cozinha. Pegou o copo, desabotoou a braguilha e num jato forte mijou dentro do copo. Levantou o copo cheio de xixi com a mão esquerda e a pistola com a direita, disse alto em bom tom: “Não lhe mato, mas você vai beber o meu mijo.”
O doutor não teve dúvida pegou o copo, colocou os lábios na borda e tomou aquele liquido amarelo, ainda quente e espumante. Quando terminou, tremia de medo, de pavor. Nesse momento o tenente foi ríspido: “Vá embora seu filho de uma puta e nunca mais cruze comigo ou com minha mulher, na próxima vez, sem perdão, meto uma bala nos seus cornos.”
Eu ouvi essa história contada pelo próprio tenente a meu pai. Sentado perto dos dois, eu fazia que estava organizando a coleção de selos como quem não quer nada, emocionado prestando atenção à história. No domingo seguinte desci à praia mais cedo. Quando a musa apareceu na praia me deu um alô com as mãos perguntando: “Onde está meu cavalheiro que não me esperou?”
Aproximou-se abrindo os braços, me abraçou forte. Ao deitar-se na areia, fascinado olhei suas apetitosas pernas, lembrei-me da história. Pensei. “Se o tenente descobre meus desejos, vou terminar comendo cocô.”