Aristides cursava a Academia Militar das Agulhas Negras, quando vinha de férias gostava de andar fardado com o uniforme militar. Orgulhava-se de ser cadete e adorava exibir-se. Fazia sucesso entre as garotas.
Durante as férias houve uma festa de 15 anos muito badalada na sociedade alagoana. O pai da moça, um empresário que por sua ousadia de homem de negócios tinha ficado rico, muito rico, morva numa manção na praia de Pajuçara.
Os jovens dançavam no imenso salão iluminado por vistosos lustres. Aristides havia recebido um convite formal, como era época de chuva, além de fardado levou a pelerine – capa longa, azul escuro, usada como integrante do uniforme do cadete, cobre os ombros e a parte superior do corpo, tem fendas abertas para os braços.
Quando a orquestra iniciou a tocar “Blue Moon”, Aristides avistou uma bela moça no canto da sala olhando em sua direção. Num impulso irresistível levantou-se em direção à bela moça que vestia o único vestido preto naquela festa. Aproximou-se, antes de convidá-la para dançar, ela abriu os braços dizendo que estava esperando o convite. Juntaram seus corpos rodopiando o salão com um abraço bem apertado. Os dois se olhavam como se uma paixão momentânea houvesse surgido.
Certo momento ele perguntou por seu nome. Rita, respondeu a moça. Ele juntou seu corpo ao do jovem, e assim ficaram dançando, mudos, afastavam-se algumas vezes para olhar um ao outro. Caso de paixão fulminante. Dançaram, conversaram. Certa momento, Rita lhe falou, devia ir para casa, tinha que chegar antes da meia-noite. Ele ofereceu-se para levá-la. Na saída chovia muito, chuva intensa, Aristides ofereceu, cobriu sua companheira com a pelerine protegendo-a do aguaceiro, correram em direção ao abrigo de ônibus.
Subiram no ônibus quase vazio. Sentados no banco conversaram como se conhecessem há muitos anos. Ao passar pela Avenida da Paz, Aristides puxou o rosto de Rita, deu um beijo ardente, sentiu seus lábios frio. De repente percebeu que ela chorava.
Perto da praça da Faculdade de Medicina Rita tocou a campainha, o ônibus parou, eles desceram. Ela pediu para não acompanhá-la, morava perto, no dia seguinte devolveria a capa preta, aliás, a pelerine azul escuro. Marcaram na praça.
Aristides, cuidadoso ficou olhando até ela desaparecer na esquina, na escuridão da rua, no oitão do Cemitério Nossa Senhora da Piedade.
Rita não saiu de seu pensamento durante o dia. Quando o relógio bateu sete horas da noite Aristides estava na praça da Faculdade. Ficou a olhar os passantes em busca de um vulto parecido com sua amada. Deu voltas no quarteirão, passou dezenas de vezes na rua em que ela desapareceu. Perguntou a algumas pessoas se conhecia Rita. Até que uma moça assustou-se quando indagada, informou que ela havia morado naquela casa, apontando para um bangalô.
Aristides bateu na porta. Apareceu uma senhora com aparência triste. Tomou um susto quando o rapaz perguntou se ali morava Rita.
A velha mulher perguntou quem era o rapaz. Ele disse ser amigo de Rita, havia conhecido ontem, marcaram para se encontrar naquela noite na praça.
Aristides arrepiou-se, quando a triste senhora respondeu, no dia anterior fez um ano de sua morte num desastre de carro.
Tentando ficar calmo, Aristides contou o encontro da festa. Inclusive. havia deixado com Rita sua pelerine, devido a chuva.
Resolveram ir ao cemitério. Entraram pela alameda principal até a capela, aconteciam dois velórios noturnos, famílias choravam seus mortos. Desviaram para direita onde estava a sepultura de Rita. Ao aproximar-se, perceberam, a pelerine, a capa preta, cobria o túmulo de Rita. Emocionados abraçaram-se chorando. Ficaram no cemitério até a meia-noite quando os portões se fecharam. Aristides não quis levar a pelerine.
Há muito tempo que moradores do Prado e do Trapiche juram ter visto, ainda vêem, nas noites de lua nova, uma bela mulher, pálida, circulando vestida em uma elegante capa preta.
O Coronel Aristides há 42 anos ininterruptos vem a Maceió, tem uma obrigação, rezar no túmulo de Rita.
Em homenagem a mais famosa mulher do bairro, um grupo de foliões do Prado, comandado pelo agitador cultural Marcos Catende formou um bloco, deu o nome de “Bloco da Mulher da Capa Preta”. Todo carnaval desfila pelas ruas do bairro, com um boneco gigante, uma bela mulher vestida e coberta por uma longa capa preta.