A MORTE DE ÍCARO
Maércio Lopes Siqueira
Dédalo e Ícaro: da mitologia grega para a literatura popular nordestina
A mitologia grega
é rica de ensinamento
para toda nossa vida
pois nos dá conhecimento
da natureza humana,
mostrando como se engana
nosso pobre pensamento.
Uma lenda dessas diz
que Dédalo trabalhava
para Minos, um rei grego
e a ele agradava
com as suas invenções,
pois suas fabricações
o rei muito apreciava.
Mas a glória durou pouco
sumiu a sua alegria.
Dédalo desagradou
ao rei o por isso ia
para sempre ser levado
e ficar aprisionado
numa torre muito fria.
Nesse lugar de prisão
numa ilha situado
Dédalo ficou cativo
do seu filho acompanhado.
Tanto o pai como o menino
cumpriam o seu destino
pela vida já traçado.
Porém Dédalo pensava
num modo de escapar.
Queria fugir dali
pra ninguém mais o pegar.
Levaria o seu filho
vencendo todo empecilho
para assim se libertar.
Depois de muito pensar,
encontrou uma saída
e disse para si mesmo
numa voz bem comovida:
“Vigiam terra e mar,
é por tanto pelo ar
que salvarei nossa vida.”
Porque Minos, o rei grego,
mandava que a vigilância
fosse dura e rigorosa
sempre em toda circunstância
pela terra e pelo mar
sem deixar de revistar
tudo com toda constância
Por isso Dédalo pai
por ser bom visionário
enxergou a solução
no seu grande imaginário,
pensando em fabricar
boas asas e voar
de modo extraordinário.
O inteligente homem
ansioso por fazer
dois pares de asas boas,
começou a percorrer
o espaço que podia
e as penas que ele via
tratava de recolher.
Depois de ter recolhido
boas e diversas penas,
ele amarra com uns fios,
usando os dedos apenas
juntando bem as maiores
para depois as menores
com cera colar centenas.
Enquanto o pai trabalhava
com a mente e com os dedos
o filho se divertia
as penas sendo brinquedos
quando o vento as levava,
ele corria e pegava
eram esses seus folguedos.
Dédalo faz que as asas
tenham boa curvatura,
cuidando para que elas
se encaixem na estrutura,
quer fazer de modo tal
que chegando ao final
a obra tique segura.
Quando aprontou as asas
quis fazer um experimento
segurou nelas com jeito
e fazendo movimento
seu corpo ficou suspenso,
sentiu um prazer imenso
por causa de seu invento.
As asas funcionaram
de modo sensacional
Assim eles fugiriam
numa forma sem igual.
Pai e filho como aves
quebrando todas as traves
da nossa lei natural.
Pois o homem não é ave,
o seu lugar é o chão,
homem ter um par de asas
é um caso de aberração,
ou fruto da inteligência
de trabalho e paciência
de grandiosa invenção.
Pondo no filho as asas,
Dédalo muito feliz
ajeitando seu pequeno,
com forte voz ele diz:
Ícaro, filho querido
vou deixá-lo esclarecido
pois tu és um aprendiz.
Não vá voar muito baixo
aproximado do mar,
os vapores dessas águas
podem te atrapalhar.
Também não subas demais,
a cena não é capaz
do calor agüentar.
É preciso o equilíbrio
e voar numa altura
que não comporte perigo
e que seja mais segura.
Por isso fica ao meu lado
pois eu tenho mais cuidado
e melhor desenvoltura.
Dito isso, os dois partiram
cruzando o imenso céu,
da prisão dura saindo
deixando a ilha cruel.
Voavam com liberdade,
sentindo a felicidade
mais doce que o doce mel.
Os camponeses na roça
viram os dois seres voantes,
pensaram que eram deuses
voando por une instantes.
Ficaram admirados
todos eles encantados
com os dois seres distantes.
Ícaro, entusiasmado,
com o vôo se embelezou
quis atingir mais altura
e por isso ele deixou
do seu pai a companhia.
O sol alto o seduzia
alcançá-lo ele buscou.
O forte calor do sol
foi, porém seu inimigo,
as asas se desfaziam
era fatal o perigo
pois s cera derreteu-se
toda pena desprendeu-se
esse foi o seu castigo.
O menino agita os braços
procurando flutuar
como se ainda tivesse
as asas para voar.
Gritando aflito pro pai
porém sem jeito ele cai
nas profundezas do mar.
E Dédalo não conseguiu
do seu filho o salvamento.
Viu quando ele caía
mas o distanciamento
não permitiu sua ação
que trouxesse a salvação
para o filho no momento.
Viu o filho despencar-se
em busca do mar profundo,
tristeza maior que essa
não existe nesse mundo!
O sue Ícaro morreu
quando nas águas bateu
numa fração de segundo.
O pai muito amargurado
Das águas tira o menor,
Levou-o pra muito longe
Para dar-lhe a melhor
E bonita sepultura,
Que acolhesse com ternura
O seu tesouro maior.
Então Dédalo enterrou
o filho muito querido.
De ter feito aquelas asas
já estava arrependido
Alcançou a liberdade
mas lhe ficou a saudade
do menino assim perdido.
Em memória do seu filho
toda aquela região
ele chamou de Icária
pra sua recordação.
Chegou em paz na Sicília
deixando pra sempre a ilha
lugar da triste prisão.
Essa lenda tão fantástica
nos mostra com eficiência
a importância do invento,
do saber e da ciência,
mas nos dá uma lição
pra termos moderação
no uso da inteligência.
Ela também nos ensina
o amor pela virtude,
a busca do equilíbrio
seja em nós uma atitude.
O sucesso e a grandeza,
o prazer e a riqueza,
tudo isso nos ilude.
Dédalo foi muito sábio,
pois conhecia o segredo
das coisas da natureza,
no entanto tinha medo
e por isso advertiu
mas o filho não ouviu
morrendo, por isso, cedo.
Portanto toda ciência
quando é mal direcionada
passando dos seus limites
de uma forma exagerada
deixa de ser benfazeja
por importante que seja
torna amaldiçoada.