Donzela, tu suspiras - esse pranto, Que vem do coração banhar teu rosto, Esse gemer de lânguido penar, Revela amarga dor - imo desgosto: Amiga... acaso cismas ao luar, Terno segredo de ignoto amor?!...
Soltas madeixas desprendidas voam Por sobre os ombros de nevada alvura; Tua fronte pálida os pesares c'roam Como auréola de martírio... pura, Cândida virgem... que abandono o teu? Sonhas acaso com o viver do céu!
Sentes saudades da morada d'anjos, D'onde emanaste? enlangueces, gemes? É nostalgia o teu sofrer? de arcanjos Perder o afeto que te votam - temes? Ou temes, virgem - de perder na terra, Toda a pureza que tu'alma encerra!?...
Não, minha amiga - que a pureza tua Jamais o mundo poderá manchar: Límpida vaga a melindrosa lua, Vencendo a nuvem, que se esvai no ar, E mais amena, mais gentil, e grata Despede às águas refulgir de prata.
Que cismas pois? porque suspiras, virgem? Porque divagas solitária, e triste? Delira a flor - e na voraz vertigem Dum louco afeto, té morrer persiste... Pálida flor! o teu perfume exalas Nesses suspiros, que equivalem falas.
Cismas à noite... que cismar o teu? Sonhas acaso misterioso amor? Vês nos teus sonhos o que encerra o céu? Aspiras d'anjos o fragrante olor!? Porque, não creio que a esta terra impura Prendas tua alma, divinal feitura.
Não. É resumo dos afetos santos Que além se gozam - que uma vez somente À terra descem, semelhando prantos. Que chora a aurora sobre a flor olente: Meigos, sem mancha, vaporosos, ledos, Puros, - de arcanjos divinais segredos.
Sentes saudades da morada d'anjos! Sentes saudade do viver dos céus? Ouves os carmes de gentis arcanjos! Soluças n'harpa teu louvor a Deus!... Anjo! descanta sobre a terra impia Místicas notas de eternal poesia.
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