Dona Mercedes morreu no dia que completou 51 anos de casada. O Coronel Eustáquio enterrou a esposa na Fazenda Olho D’água das Flores, onde passaram suas vidas com muito amor, carinho e respeito. Mercedes era uma mulher ativa, de opiniões, deixava o marido pensar que ele mandava, entretanto, ele só fazia o que ela queria. No último desejo, pediu para ser enterrada junto ao túmulo do filho embaixo de uma enorme aroeira num morrete perto dos currais.
Assim foi feito. Os cinco filhos vieram de Maceió e enterraram a matriarca junto ao seu amado filho Bruno, que havia morrido aos 19 anos.
A morte da mulher foi outro baque na vida do coronel. Com 72 anos ele monta todo o dia um cavalo e sai fiscalizando, dando ordens pelo extenso pasto do gado nos arredores. Formou seus filhos: três advogados, uma assistente social e uma médica. Sua mágoa e preocupação é que nenhum deles, incluindo genros e netos, tem vocação para fazendeiro. O filho mais novo, Bruno, foi seu braço direito, seu orgulho, amava administrar as terras e o gado, não quis estudar, tinha um gênio briguento, gostava de cachaça e mulheres. Morreu de numa queda de cavalo, correndo uma vaquejada, estava bêbado derrubou o boi, mas caiu do cavalo. Quando ele lembra Bruno, dá uma dor no coração de saudade, era o filho querido, o companheiro nas andanças pela fazenda.
Depois que Dona Mercedes morreu o coronel Eustáquio enclausurou-se na fazenda. Só viajava a Maceió às quartas-feiras. Nunca foi mulherengo, mas gostava de se aliviar, como dizia, com uma garota de programa.
Havia dois anos da morte da esposa quando no final de ano a família se reuniu para o natal e aniversário do patriarca, 25 de dezembro. Festa tradicional da família, animada com filhos, netos, agregados e convidados. Na festa, Natália, a filha médica, notou que o coronel andava cansado. Exigiu que ele fizesse um checape.
Edgar, o genro, figura simpática, boa conversa, do ramo de comércio de imóveis e carros, as más línguas falam que seu casamento com a médica teve também um olho nos bens do velho, fazia tudo para agradar ao sogro. Ofereceu-se para acompanhar o velho coronel aos médicos indicados pela doutora. Foram dez dias entre consultas e exames. O doutor urologista examinou os resultados. Depois de apalpar o ventre, pediu ao coronel para ficar na posição que Napoleão perdeu a guerra, e fez o famoso toque retal. Constatou que a próstata estava volumosa e inflamada. Passou-lhe antibiótico e determinou ao Coronel para vir toda semana tomar aquela massagem na próstata, até diminuir o tamanho e acabar a inflamação.
À noite a filharada e os netos foram visitá-lo em seu confortável apartamento na orla da Jatiúca. Ele confidenciou para os filhos, que estava constrangido com o tratamento, que não ia mais levar dedada de médico nenhum. Seu fio-fó era órgão de saída, nada de entrada. Com determinação avisou que não voltaria ao consultório, tomaria apenas o remédio.
A doutora Natália, ao dormir, conversou com o marido sua preocupação com o pai, a massagem na próstata era necessária. Edgar homem de desembaraços e de soluções, nunca põe dificuldades, prometeu resolver o problema.
No outro dia pela manhã foi conversar com o do doutor urologista, acertando os detalhes de seu plano. Sua atendente bonita, sabia fazer massagem na próstata, veio a calhar. Com a conivência do doutor prosseguiu a estratégia. Na quarta-feira foi visitar o sogro levando recado do doutor que ele podia ser atendido também por uma massagista especial. Depois de muito relutar, o coronel foi espiar a massagista que estava no carro esperando. Ficou encantado com a beleza daquela morena simpática que lhe sorriu pecaminosamente. Com a jura do genro de não contar nem para a filha, o velho se deixou levar para um local apropriado. O que houve entre as quatro paredes, ninguém sabe. A próstata do coronel já deve ter curado há muito tempo, mas ele prossegue o tratamento. Fica feliz quando amanhece a quarta-feira, vem para Maceió, radiante, dia da massagem com a bonita Michelle que engorda seu salário em R$ 200, 00 toda semana.