A MÃE D'ÁGUA
Olegário Mariano
A MÃE-D'ÁGUA
Num recanto de parque onde a melancolia
Da tarde estende um véu de saudade e de dor,
Uma água morta jaz, na última luz do dia,
Imota e triste, em seu perpétuo dissabor.
Ninféias a oscilar bóiam à tona fria
E do leito lodoso, em súbito rumor,
Sobe, de quando em quando, um choro de agonia
Que vai de folha em folha, e vai de flor em flor.
Quando a noite se estende, essa voz continua ...
Cresce cada vez mais e, alongada e comprida,
Como o vento que encrespa os cabelos da lua,
Corre à tona na luz tênue que a sombra espanca ...
— É a Mãe-d'água que chora a saudade da vida
Dentro do coração de um ninféia branca.