À LUZ DO SON NASCENTE (POEMA DO PORTUGUÊS JÚLIO DINIS)
À LUZ DO SOL NASCENTE
Júlio Dinis
À luz do sol nascente
Resplendem pelas selvas
Mil pérolas nas relvas
Nos ares mil rubis;
No azul do céu nevoado
Não brilham as estrelas,
Mas são imagens delas
As flores do tapiz.
As aves perpassando
Agitam a ramagem,
E a perfumada aragem
Nos bosques se introduz;
Aí mil vozes falam
Ao céu sereno e mudo;
No bosque é sombra, tudo,
No céu é tudo luz.
Ridente madrugada,
Hora em que do oriente
Com o gládio refulgente
O arcanjo da luz vem;
E as trevas se dissipam,
Com as trevas a tristeza,
Que em toda a natureza
A noite eivado tem.
Oh! vinde, vinde ao prado
Que o orvalho ainda umedece;
Ali tudo parece
A vida ressurgir
Em vórtices contínuos,
Em doudejantes valsas
Elevam-se das balsas
Insetos a zumbir.
Subi do prado ao vértice
Da florida colina,
Então pela campina,
Os olhos prolongai:
Ao longe, ao longe as vagas,
Lutando nos fraguedos;
Mais perto os arvoredos
Que o arroio banhar vai.
A tudo anima a esperança
No monte e vale e praia;
No céu Vésper desmaia
Ao matutino alvor.
O cântico das aves,
Das flores o aroma
Nos diz: – O dia assoma!
Hossana ao Criador! –