Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Violante Pimentel - Cenas do Caminho segunda, 20 de maio de 2024

A LÍNGUA (CRÔNICA DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA VIOLANTE PIMENTEL)

 

A LÍNGUA

Violante Pimentel

O hábito de estirar a língua para um irmão ou colega de classe, durante uma discussão, rendia para a criança um castigo ou a ameaça da mãe passar pimenta na boca do filho.

É claro que a criança aprendeu a estirar a língua e dizer palavrões, com alguém, como colegas da escola ou mesmo gente de casa. Às vezes, os próprios pais e parentes ensinam gestos e palavrões aos filhos ainda pequenos, por brincadeira, e depois querem corrigir, quando já é tarde. Nenhuma criança nasce sabendo estirar a língua para alguém ou dizer palavrões. É injusto que os pais as castiguem por isso, se eles mesmos, às vezes, são os responsáveis por tal aprendizado.

No interior nordestino, as pessoas faladeiras e mentirosas tem fama de ter a língua muito grande. Existe até uma praga que diz que elas pagarão a maldade que praticam, com a língua pendurada e espetada com uma enorme e grossa agulha. Isso era castigo usado séculos atrás, também para aqueles que fossem incrédulos ou blasfemassem contra Deus e sua Mãe Santíssima. “Que lhes fosse tirada a língua pelo pescoço e fosse queimada.”

O Rei D. Afonso V estabeleceu que todo aquele que renegasse a Deus ou à Santa Maria, “se fosse Fidalgo, Cavaleiro ou Vassalo, pagasse por cada vez, mil réis para a arca da piedade (dos cativos); se fosse peão, que lhe dessem vinte açoites , enquanto, ao mesmo tempo, lhe metiam pela língua uma agulha de albardeiro, que ficasse na língua enquanto durassem os açoites.

O albardeiro era o fabricante de albardas, espécie de selas para jumentos e cavalos, e usava para costurá-las, uma agulha longa e grossa. Em qualquer castigo aplicado, a vítima teria o palmo de língua estirado fora da boca. A língua, atravessada por uma agulha, não podia ser recolhida. E o suplício era maior ainda, quando aplicado aos incrédulos e heréticos, homens de falsa fé, julgados merecedores da imagem atroz exposta.

Essa tortura, ao que se sabe, só é usada no Brasil como perjuros e pragas, rogadas aos merecedores de tal castigo.

Dizer que, necessariamente, alguém pagará a maldade praticada, com um palmo de língua de fora, espetada por uma agulha longa e grossa, é apenas um desejo de vingança de quem é ofendido.

O Gesto de estirar a língua para alguém, é considerado um insulto, pois, na prática, quem faz isso, está querendo mandar o outro para um determinado lugar, como o inferno ou à “m……”.

É um gesto agressivo e grosseiro e tem a mesma conotação de uma afronta ou injúria, em quase todas as partes do mundo. Sua prática é instintiva, quando “o saco” de alguém transborda de indignação. É uma reação agressiva, automática e não planejada. É uma resposta a um estímulo ou provocação.

Estirar a língua para alguém, num momento de raiva, é um gesto milenar, nacional e natural, sem origem nem história. Todos os povos o conhecem.

O escárnio, contido no gesto de mostrar a língua já era conhecido antes de Cristo.

Pois bem. – Trezentos e cinquenta e dois anos antes de Cristo, os gauleses assaltaram Roma com a violência tradicional. Um dos guerreiros, agigantado, confiando na sua robustez pessoal, diante do exército romano, desafiou-o para um duelo, exigindo um antagonista para o combate singular.
Os romanos, intimidados com a arrogância selvagem, ficaram silenciosos. O gaulês começou a rir com zombaria, e pôs a língua de fora num escárnio:

– “Deinde Gallus irridere coepit atque linguam exertare.” “Então o galo começou a rir e a esticar a língua”.

O jovem Titus Manlius, indignado com o ultraje, enfrentou o altíssimo inimigo, derrubou-o, decepou-lhe a cabeça, arrancando-lhe do pescoço um colar de ouro, e ornando-se com ele, a título de troféu. Ficou sendo chamado Torquatus, de “torques”, o colar.

O episódio consta em Tito Livio (VII, 9, 10) e em Aulo Gélio (IX, 13, 3), divulgando página dos desaparecidos Anais de Q. Claudius.
Portanto, séculos atrás, a língua estirada tinha a mesma conotação injuriosa, humilhante e provocadora dos dias atuais. Era um gesto idêntico para romanos e gauleses, germânicos e celtas.

Merece destaque a famosa fotografia do físico teórico alemão, Albert Einstein (Ulm, 14.03.1879 – Princeton, 18.04.1955), mostrando toda a língua, no dia em que completou setenta anos. Perguntado sobre a razão desse gesto, respondeu:

“A língua esticada expressa minhas opiniões políticas”, disse o célebre físico sobre a foto que o tornou um ícone pop.


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